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Rio Grande,04/09/2025

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Luiz Pereira das Neves Neto

Construindo memórias em si e para si: como espaços de lazer contribuem com nossas experiências efetivamente múltiplas?


Construindo memórias em si e para si: como espaços de lazer contribuem com nossas experiências efetivamente múltiplas?

O tempo

Mário Quintana


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é Natal...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram-se 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente

e iria jogando, pelo caminho,

a casca dourada e inútil das horas...

Dessa forma eu digo:

não deixe de fazer algo que gosta

devido à falta de tempo,

pois a única falta que terá

será desse tempo que não voltará mais.


Memória não é apenas aquilo que lembramos, mas também o modo como fomos moldados pelo que vivemos. E entre as experiências que mais nos marcam, estão aquelas forjadas no tempo livre (nas praças, nos parques, nas praias, nas quadras, nas ruas, nas conversas ao entardecer). Os espaços de lazer, muitas vezes vistos como secundários diante das urgências do cotidiano, são, na verdade, territórios fundamentais para a construção subjetiva e coletiva das pessoas.


Esses espaços não são neutros. São atravessados por afetos, desigualdades, encontros e descobertas. É neles que exercitamos nossa convivência, que experimentamos a pluralidade e que, muitas vezes, aprendemos a ser quem somos. Ao mesmo tempo em que oferecem diversão, também oferecem pertencimento. São lugares onde o tempo desacelera, e as relações se intensificam, mesmo quando fugazes.


Que tipo de memória você guarda de uma tarde ao ar livre com amigos ou familiares? Que sons, cheiros ou cenas ainda te visitam quando pensa em uma praça da infância ou em uma roda de conversa à beira-mar? Como esses momentos se entrelaçam com a pessoa que você se tornou?


Os espaços de lazer produzem experiências efetivamente múltiplas porque nos permitem ser mais do que uma só coisa: podemos ser brincantes, artistas, atletas, espectadores, filhos, pais, vizinhos, cidadãos em sua inteireza. Em tempos de produtividade excessiva e conexões digitais, muitas vezes esvaziadas de presença, o lazer nos devolve o corpo, o olhar, a pausa (e, com isso, a capacidade de estar com o outro de maneira mais autêntica).


Na periferia, nas pequenas cidades, nas comunidades ribeirinhas ou nos centros urbanos, esses espaços também se tornam palcos de resistência. Onde falta estrutura, o improviso vira criatividade. Onde falta acesso, o coletivo inventa novos modos de existir. Como garantir que essas vivências não sejam interrompidas pela lógica da exclusão ou pela urbanização que desumaniza?


Pensar em políticas públicas de lazer, portanto, é pensar em cidadania, em saúde mental, em segurança, em urbanismo, em cultura e em afeto. É reconhecer que o lazer não é luxo, mas direito. E que os espaços que o possibilitam são, muitas vezes, o ponto de partida para memórias que seguirão conosco por toda a vida.


E você, que espaço de lazer marcou sua história e o que ele lhe ensinou sobre si mesmo?



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