Luiz Pereira das Neves Neto
Múltiplas gerações no mundo do trabalho: a interlocução do “X”, “Y” e “Z” existe?
No Brasil, um estudo conduzido pelo Instituto Locomotiva (2021) mostrou que 58% dos trabalhadores brasileiros sentem dificuldade em interagir com colegas de gerações diferentes.
Múltiplasgerações no mundo do trabalho: a interlocução do “X”, “Y” e “Z” existe?
O mundo do trabalho contemporâneo é marcado por umacomplexa convivência intergeracional. Pela primeira vez na história recente,convivem ativamente nos ambientes organizacionais quatro — ou até cinco —gerações: Tradicionalistas (nascidos até 1945), Baby Boomers (1946-1964),Geração X (1965-1980), Millennials ou Geração Y (1981-1996) e a Geração Z (apartir de 1997). Esse cenário impõe desafios e oportunidades para instituiçõespúblicas e privadas, especialmente em termos de gestão de pessoas, comunicação organizacional,inovação e cultura institucional.
De acordo com estudo global da PWC (PricewaterhouseCoopers, 2022), mais de 70% dos líderes derecursos humanos apontam a convivência entre diferentes gerações como um dosprincipais fatores que influenciam a retenção de talentos e o climaorganizacional. Isso ocorre porque cada geração carrega consigo um conjunto devalores, estilos de trabalho, formas de comunicação e expectativas em relaçãoao emprego que foram moldadas por contextos socioculturais e econômicosdistintos.
Por exemplo, enquanto os Baby Boomers tendem avalorizar estabilidade, hierarquia e comprometimento de longo prazo, osMillennials demonstram maior valorização da flexibilidade, do propósito socialdo trabalho e da autonomia. Já os jovens da Geração Z, como mostra o relatórioda Deloitte Global (2023), priorizamsaúde mental, bem-estar e diversidade nas organizações — e tendem a buscarexperiências laborais que sejam mais compatíveis com seus valores pessoais.
A diversidade geracional pode ser, portanto, uma fontede inovação, desde que bem gerida. Erickson(2009), pesquisadora da Harvard Business Review, propôs o conceito de Generational Intelligence como umahabilidade organizacional de compreender, respeitar e integrar as distintasperspectivas geracionais, promovendo sinergias em vez de conflitos.
No Brasil, um estudo conduzido pelo InstitutoLocomotiva (2021) mostrou que 58% dos trabalhadores brasileiros sentemdificuldade em interagir com colegas de gerações diferentes, principalmente emambientes com alta demanda tecnológica. Esse dado evidencia a necessidade depolíticas de aprendizagem contínua e cultura colaborativa comoestratégias-chave de integração.
No campo da educação e da formação profissional, essecenário impõe novas exigências. A pedagogia da alternância, por exemplo,aplicada em programas de aprendizagem profissional, mostra-se um espaçoprivilegiado para mediação entre gerações, pois conecta saberes técnicos aexperiências intersubjetivas, conforme aponta Brandão (2017) em estudos sobre educação do campo e formação para otrabalho.
É importante destacar que o debate sobre gerações notrabalho não deve cristalizar estereótipos. Estudos recentes da Society for Human Resource Management(SHRM, 2020) alertam que há mais variações intrageracionais do queintergeracionais em termos de comportamento profissional, o que reforça aimportância de abordagens individualizadas, inclusivas e situadas na realidadesociocultural de cada grupo.
Ademais, mais do que pensar apenas em "choques degerações", é preciso desenvolver uma escuta intergeracional, que permita àorganização funcionar como um espaço de memória, transição e reconstrução. Issoexige não apenas ferramentas de gestão, mas também abertura para o diálogoentre diferentes paradigmas de trabalho — uma interlocução constante entre oque fomos, o que somos e o que aspiramos ser, enquanto sociedade emtransformação.
Por fim, a pergunta mais inquietante, que ainda cercaesta temática multigeracional, ainda persiste: Estamos preparados para transformar a convivência entregerações em potência coletiva — ou continuaremos tratando a diversidade etáriacomo um problema a ser administrado?
Referências:
● BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação do campo e saberes populares. Campinas: AutoresAssociados, 2017.
● DELOITTE GLOBAL. 2023 Gen Z and Millennial Survey. Disponível em: www.deloitte.com
● ERICKSON, Tamara. What’s Next, Gen X?. Harvard Business Review, 2009.
● INSTITUTO LOCOMOTIVA. Convivência entre gerações no ambiente de trabalho, 2021.
● PWC. Futureof Work and Skills Survey, 2022.
● SHRM. UnderstandingGenerational Differences in the Workplace, 2020.
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