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Você já esteve ao lado de alguém internado e desejou que cada detalhe do tratamento fosse acompanhado com o máximo de cuidado? Imagine se, além da equipe de saúde, houvesse um segundo par de olhos atento a cada prescrição, conferindo doses, combinações de medicamentos e exames, para evitar qualquer risco desnecessário. No Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), essa ajuda extra já impactou a vida de mais de mil pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa conquista, celebrada em agosto de 2025, é fruto da implantação da ferramenta de inteligência artificial (IA) NoHarm, que auxilia farmacêuticos clínicos na análise de prescrições médicas e na prevenção de incidentes. Entre março de 2024 e agosto de 2025, foram checadas 9.484 prescrições e avaliados 130.337 medicamentos. A aceitação das intervenções propostas pela equipe farmacêutica chegou a 67%.

Segundo a chefe do Setor de Farmácia Hospitalar (SFH), Kátia Bacelo, o HE-UFPel é pioneiro na Rede Ebserh ao implantar a ferramenta. “Firmamos um acordo de cooperação técnica com a NoHarm.ai em 2023, integramos a ferramenta ao Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU) e, desde então, servimos como referência para os demais hospitais universitários federais”, explicou. 

O NoHarm é um instituto sem fins lucrativos que, com apoio de voluntários, implementa seu Sistema Inteligente de Farmácia Clínica em hospitais. O sistema visa melhorar gratuitamente o cuidado aos pacientes do SUS, cobrando apenas de leitos privados. Ao atingir mil pacientes impactados, o HE-UFPel foi premiado, reconhecendo seu pioneirismo na implantação da ferramenta e os resultados positivos nas intervenções farmacêuticas. 

Impacto no dia a dia e na formação de profissionais 

O projeto incluiu estudantes e dois residentes da área de Farmácia no Programa de Residência Multiprofissional em Oncologia. “Entendendo que somos um hospital de ensino, envolvemos alunos desde o início para avaliar o impacto da ferramenta e formar profissionais preparados para utilizar tecnologias que aumentam a segurança do paciente”, pontuou Kátia.

O bolsista do Programa de Iniciação Tecnológica (PIT), Lucas Gehres, realizou mais de 370 intervenções farmacêuticas durante o período e obteve 72% de aceitação por parte da equipe médica, segundo dados do projeto de pesquisa “Impacto da implementação de um sistema de inteligência artificial sobre as intervenções farmacêuticas realizadas no HE-UFPel”. O estudo foi conduzido por Lucas, sob a orientação da farmacêutica Priscila Crespo e a coorientação da farmacêutica Patrícia Tust. 

“Durante o último ano, tive a honra de participar da implementação da NoHarm, uma ferramenta de inteligência artificial projetada para auxiliar a tomada de decisão dos farmacêuticos clínicos. Nosso hospital foi escolhido como piloto para essa inovação, e trabalhei com total dedicação para que essa integração ocorresse da melhor maneira”, relatou Lucas.

Priscila destacou que a presença do bolsista ajudou a consolidar a prática: “A IA permite a visualização em tela da prescrição médica e dos principais exames, interações medicamentosas e demais problemas relacionados a medicamentos (PRMs). Com a participação de Lucas, conseguimos aprimorar o processo de identificação de problemas relacionados a medicamentos e fortalecer a atuação da farmácia clínica”. E acrescentou: “O trabalho foi reconhecido com o prêmio de mil vidas impactadas com a utilização da NoHarm, resultado do empenho do bolsista e dos demais colaboradores envolvidos no projeto”.

Um avanço que fortalece o SUS

Para a chefe da Unidade de Sistemas de Informação e Inteligência de Dados, Nathalie Rey da Silva Aquino, o marco representa um passo importante na transformação digital da saúde pública: “Hoje celebramos uma conquista significativa: mil vidas impactadas pelo sistema NoHarm.ai. Essa solução baseada em inteligência artificial desenvolvida para avaliar prescrições médicas com maior precisão e segurança. Utilizando também outros registros assistenciais, o sistema atua como uma camada adicional de verificação, contribuindo para a prevenção de erros e promovendo uma assistência mais segura ao paciente”.

A farmacêutica Patrícia, que coordenou a implantação, ressaltou os desafios enfrentados: “Foi um grande desafio participar da integração dos sistemas AGHU e NoHarm. Além da inovação tecnológica, fomos o primeiro hospital da Rede Ebserh a implantar a ferramenta”. E completou que “A ferramenta permite também a priorização das prescrições a serem avaliadas, como a presença de alertas, maior tempo de internação ou faixa etária do paciente, entre outros parâmetros. Essa aplicabilidade agrega eficiência na rotina hospitalar, sinalizando situações que requerem a intervenção farmacêutica”.

Nathalie reforçou o pioneirismo do HE-UFPel: “Fomos pioneiros na implantação dessa tecnologia na Rede Ebserh e, com grande satisfação, acompanhamos sua expansão para outros hospitais da Rede — um passo importante na transformação digital da saúde pública”.

Mais do que números, o HE-UFPel celebra a integração entre inovação e assistência no SUS. Esse segundo par de olhos permanece vigilante, não para substituir o olhar humano, mas para caminhar junto, ampliando a segurança e fortalecendo o cuidado que cada paciente recebe. Os profissionais seguem sendo os protagonistas na assistência, enquanto a tecnologia aponta caminhos mais seguros. Como destacou a farmacêutica Patrícia, “o NoHarm auxilia na avaliação farmacêutica das prescrições, emitindo alertas que tornam o processo de prescrição e administração de medicamentos mais seguro no âmbito hospitalar”.