Marisa Martins

A criança da terceira classe
Real e estranha história envolve o naufrágio do Titanic e de uma criança.

Marisa Martins
aloha.marisah@gmail.com
Foto: arquivo pessoal
Cemitério de Fairwiew. Halifax, Canadá. Dentre os túmulos de náufragos do Titanic, o mais visitado é o da “Criança Desconhecida”.
Real e estranha história envolve o naufrágio do Titanic e de uma criança.
Em 1985, restos do navio de cruzeiros foram encontrados a quatro quilômetros de profundidade na costa atlântica do Canadá. Naufragara em 15 de abril de 1912, em choque com iceberg.
Dentre 333 corpos resgatados nas geladas águas, pelo navio Mackay Bennett, que acorreu em socorro, estava o de uma criança: Sidney Leslie Goodwin. Tinha 19 meses. Viajava com pais e cinco irmãos. Na terceira classe do navio.
Iam para Nova York, em busca de oportunidades, onde tio já trabalhava. Por acaso, viajavam no Titanic. Navio para o qual tinham passagens não partiu. Transferiram a família para aquele da tragédia.
Marinheiros do barco de resgate emocionaram-se ao encontrar corpo de criança boiando. Solitário, sem identificação, ou sinal de parentes. Erigiram lápide onde se lê: Erguida em memória da criança desconhecida, cujos restos foram recuperados após o desastre do Titanic – 15 de abril, 1912. Colocaram pingente no pescocinho do menino. Nele está escrito: Nosso querido.
Em 2007 saiu resultado do teste de DNA solicitado pelas Forças Armadas. Era de Sidney Leslie Goodwin. Pesquisadores canadenses da Universidade Lakehead, com DNA de parente materno, solucionaram o mistério. Tornou-se símbolo de todas as crianças mortas no naufrágio. Em especial, daquelas da terceira classe, que não tiveram acesso aos botes salva-vidas.
Leva às lágrimas o encontro com a sepultura e a foto de Sidney, de 1911, antes do acidente.
Tornou-se ele, não só um símbolo. Acolhe pedidos e orações. Brinquedos e flores são depositados como agradecimentos por graças alcançadas. Questão de fé.
Sai-se com peito oprimido do cemitério de Halifax. No processo contra White Star Line, proprietária do navio, há defesa argumentando que a família morreu porque não entendia avisos em inglês, conforme historiador Walter Lord. Os Goodwin, porém, eram ingleses.
Da terceira classe...
P.S: Walter Lord lançou livro sobre o Titanic, com capítulo especial: “O que aconteceu com os Goodwin?”
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