Elis Radmann

A crise de credibilidade da política agrava a polarização
Mais do que cargos e governos, a política depende da crença da população e do engajamento.
Acrise de credibilidade da política agrava a polarização
Ademocracia exige confiança na política e nos políticos. Mais do que cargos egovernos, a política depende da crença da população e do engajamento, comreflexões que devem estar presentes em instituições sociais como a família e a escola,até chegar em associações, sindicatos e partidos.
Na prática, a política está em tudo o que vivemos,nos pequenos gestos do dia a dia e nas grandes decisões que moldam o Brasil.Ela não se resume a disputas eleitorais ou a cargos públicos, vai muito alémdisso. A política é a arte de se relacionar, de dialogar, de construir caminhoscoletivos. Está na cortesia entre vizinhos, no respeito às diferenças, na buscapor soluções que beneficiem a cidade que temos e nos ajuda a pensar na cidadeque queremos ter.
Entretanto, a forma como a política vem sendodeturpada nos distancia de seus princípios. É evidente que, ano após ano, adesconfiança na política se intensifica devido às próprias ações dos políticos.A decepção do eleitor se mantém viva diante da precarização dos serviçospúblicos, especialmente em áreas como saúde e educação. Além disso, o cenáriopolítico parece cada vez mais marcado por leis que favorecem os legisladores epor sucessivos casos de corrupção, reforçando a sensação de distanciamento entrerepresentantes e representados. Tanto é que 70% dos entrevistados não lembram aquem destinaram o voto para deputado na última eleição.
E o cenário político de 2025 continua conturbado. Aspré-campanhas presidenciais dominam as “ruas”, enquanto o Congresso discutemudanças polêmicas na legislação e no controle de recursos parlamentares. O STFconduz um julgamento histórico contra os acusados de tentativa de golpe. Nomeio desse turbilhão, o eleitor demonstra crescente descrença com os trêspoderes.
Pesquisas nacionais indicam aumento da desconfiançanas instituições brasileiras, sobretudo políticas. O Congresso Nacional, commíseros 9% de confiança, sofre com a percepção de que seus membros priorizaminteresses próprios e inflamam discursos nas redes sociais sem entregasconcretas.
Diante dessecenário, em cada eleição o eleitor transfere sua confiança para líderescarismáticos, apostando no personalismo político, como ocorreu com Bolsonaro em2018 e Lula em 2022. Conforme estes líderes não correspondem, o eleitor mostrasua negação. A confiança depositada pela maioria da população em Lula, em 2022,tem se convertido em frustração: 71% dos brasileiros acreditam que ele nãocumpriu suas promessas de campanha e mais da metade da população desaprova ogoverno, avaliando que o Brasil está na direção errada. Para a população, a inflação, mesmodeclarada sob controle, não reflete a realidade dos preços nos supermercados e arevisão das faixas do imposto de renda, que deveria beneficiar a classe média eos mais pobres, não avançou como previsto, gerando mais frustração em parte dapopulação.
Neste ambiente, a polarização se tornamais um elemento da cultura política vigente, uma forma de “sobrevivênciapolítica do eleitor”. Em cada um dos lados, temos ±¼ de apoiadores, defensoresde direita ou de esquerda. No centro, temos o eleitor independente, que acabaescolhendo um lado motivado por esperança ou, até mesmo, por exclusão:“escolhendo o menos pior”. A grande pergunta que me faço há muitos anos: oseleitores “fazem” os políticos ou são os políticos que “fazem” os eleitores?
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