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Rio Grande,05/05/2025

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Luiz Pereira das Neves Neto

Mudanças climáticas na contemporaneidade: o que não está sendo observado?


Mudanças climáticas na contemporaneidade: o que não está sendo observado?


   Nas últimas décadas, as mudanças climáticas saíram dos relatórios científicos e passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Ondas de calor extremo, chuvas intensas, estiagens prolongadas e eventos meteorológicos cada vez mais imprevisíveis já não são mais exceção — são o novo normal. Mas em meio a esse cenário cada vez mais evidente, surge uma pergunta inquietante: o que ainda estamos deixando de observar?


   É comum associarmos o aquecimento global a imagens de geleiras derretendo e incêndios florestais devastadores. Esses símbolos potentes têm seu valor, mas talvez ofusquem outros aspectos igualmente importantes — e perigosamente negligenciados. Será que estamos observando com a devida atenção as implicações sociais, políticas e econômicas que derivam dessas mudanças no clima?


   Por exemplo, quando falamos em desastres ambientais, pensamos imediatamente em perdas materiais. Mas e as comunidades vulneráveis que perdem muito mais que bens? Quantas pessoas perdem seus modos de vida, suas referências culturais, sua identidade territorial? Já paramos para refletir sobre o impacto das mudanças climáticas na ampliação das desigualdades?


   A migração climática, por exemplo, é um fenômeno silencioso que cresce a cada ano. Agricultores que abandonam suas terras por conta da seca, populações ribeirinhas deslocadas por enchentes, moradores de áreas urbanas atingidas por deslizamentos — todos esses movimentos humanos são reflexos diretos de um planeta em desequilíbrio. Estamos preparados para lidar com essa nova configuração demográfica?


   Outra dimensão pouco discutida é a saúde mental em tempos de crise ambiental. O que acontece com o imaginário coletivo quando o futuro se apresenta como uma sucessão de catástrofes anunciadas? Você já sentiu ansiedade ao ouvir notícias sobre o clima? Já teve a sensação de impotência diante da magnitude do problema?


   Também precisamos falar da política. Como nossas instituições estão se preparando (ou não) para lidar com essa crise? O discurso ambiental ainda é frequentemente capturado por interesses econômicos, esvaziado de sentido e transformado em marketing. Será que nossas políticas públicas estão realmente voltadas à preservação da vida — ou à manutenção de privilégios?


   E no nível individual? Há um estímulo constante para que mudemos nossos hábitos de consumo, e isso tem seu mérito. Mas será que uma mudança profunda pode ser alcançada apenas por decisões individuais em um sistema que se sustenta no consumo desenfreado? Não estaríamos desviando o foco do debate estrutural para aliviar a culpa do coletivo?


   A educação ambiental nas escolas e comunidades é outro ponto fundamental — mas será que ela está sendo tratada como prioridade? O quanto nossos currículos escolares estão conectados à realidade ecológica que estamos enfrentando? Estamos formando sujeitos críticos ou apenas repetidores de informações alarmantes?


    A verdade é que as mudanças climáticas são um espelho: mostram, de forma brutal, as contradições do nosso modo de vida. A crise do clima não é apenas ambiental — é ética, cultural, social. E talvez a maior pergunta que devemos fazer agora seja: diante da urgência do colapso, o que ainda precisa colapsar dentro de nós para que algo, enfim, mude?



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