Pobreza Menstrual: 52% das mulheres sofrem por falta de acesso a absorventes
O Projeto Mais Juntas da UFPel visa democratizar o acesso a esses produtos através da campanha “Eu Menstruo”.

Pobreza menstrual é o termo designado à falta de acesso a produtos como absorventes, para manter a higiene no período da menstruação. No Brasil, 52% das mulheres sofrem ou já sofreram por falta de acesso à absorventes, enquanto 35% afirmam que os itens de higiene pessoal pesam na renda. Os dados fazem parte de uma pesquisa produzida pelo Instituto de Pesquisa Locomotiva, em parceria com a marca de absorventes Always.
No dia 19 de junho, o Governo Federal divulgou uma portaria interministerial com alguns dos critérios práticos de funcionamento do Programa de Proteção e Promoção da Saúde e Dignidade Menstrual, que garante absorventes gratuitos a cerca de 24 milhões de pessoas em condição de vulnerabilidade social.
O público-alvo é formado por pessoas registradas no Cadastro Único do Governo Federal e abrange a população em situação de rua ou de vulnerabilidade socioeconômica, além de incluir as pessoas matriculadas na rede pública de ensino estadual, municipal ou federal, em todas as modalidades de ensino, que pertençam a famílias de baixa renda, assim como aquelas que estejam no sistema penal ou cumprindo medidas socioeducativas. A medida visa minimizar um problema que está presente na vida de muitas pessoas, principalmente, em situação de vulnerabilidade social ou privadas de liberdade.
Desigualdade socioeconômica
A desigualdade socioeconômica é um fator determinante na limitação do acesso das mulheres de baixa renda aos produtos de higiene menstrual. Os preços elevados dos absorventes, aliados à falta de recursos financeiros, tornam esses produtos básicos inacessíveis para muitas mulheres que já enfrentam dificuldades financeiras no dia a dia.
De acordo com uma pesquisa produzida pelo Fundo das Nações Unidas pela Infância (UNICEF), 62% das mulheres afirmam que já deixaram de ir à escola por causa da menstruação, e 73% sentiram constrangimento nesses ambientes.
“Os produtos de higiene não possuem preços acessíveis. Muitas mulheres diante nosso país são mães e pais ao mesmo tempo, enfrentam dificuldades até mesmo para garantir o pão de cada dia. Nós sabemos o quanto é necessário o uso, mas com as dificuldades financeiras acaba não sendo uma prioridade”, declara Janaina, moradora do bairro Cidade de Águeda, em Rio Grande.
Projeto Mais Juntas
O projeto de extensão Mais Juntas, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), atua há quatro anos promovendo o desenvolvimento de tecnologias sociais para o combate à violência de gênero e democratizando o acesso a produtos de higiene menstrual em Pelotas e Rio Grande.
Por meio da campanha “Eu Menstruo’, o projeto distribui absorventes nos quilombos, nas escolas, para mulheres em situação de rua e instituições sociais. A arrecadação conta com o apoio da comunidade acadêmica e pelotense.
“O Hospital, por exemplo, não consegue adquirir absorventes, porque existe uma lei que determina que os absorventes são de responsabilidade pessoal, e o hospital não consegue adquirir absorventes para doar para as pessoas menstruantes. Então nós enviamos para o Hospital Escola aqui de Pelotas e para o HU do Rio Grande”, comenta a coordenadora do projeto Mais Juntas, Larissa Medianeira Bolzan.
Foto: reprodução/redes sociais
Além da distribuição, o Mais Juntas também promove palestras e debates sobre menstruação no Centro de Referência e Assistência Social de Pelotas e em outras instituições do município.
De acordo com Larissa, o objetivo das palestras é ensinar as mulheres sobre como lidar com o período menstrual, alertar sobre os riscos de doenças e infecções sexualmente transmissíveis e quebrar o tabu em relação à menstruação.
“De forma paliativa a distribuição dos absorventes ajuda muito a comunidade, mas a longo prazo o que irá ajudar a comunidade é o debate da menstruação, essa quebra de tabu. Levar esse assunto à pauta da comunidade, colocar cartazes onde homens também frequentam com a frase da campanha ‘Eu Menstruo’, é uma quebra de tabu. Então a longo prazo, a maior contribuição da campanha é colocar esse assunto em pauta e ajudar a quebrar esse tabu e essa vergonha da menstruação”, ressalta a coordenadora.
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