Marisa Martins
Pescadores do Luar
“Se Deus quiser quando eu voltar do mar Um peixe bom eu vou trazer...” Dorival Caymmi
PESCADORES DO LUAR
Marisa Martins
aloha.marisah@gmail.com
Foto: arquivo pessoal
“Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer...”
Dorival Caymmi
Não compreendia pescadores saírem à noite, ou de madrugada, para o mar.
Via com romantismo esses homens dormindo nos barcos, enfrentando tempestades, raios, ondas bravias, na escuridão. Lastimava quando voltavam para terra sem peixes.
A romantização da atividade pesqueira nasceu nas leituras de “O homem e o Mar” de Hemingway, dos romances de Jorge Amado. Acentuou-se com os filmes Mar em Fúria e Amor impossível.
– O pescador – de Vinícius de Moraes, carimbou-me o imaginário, com redes, peixes, luares.
“Ah, tua vida tem casos, pescador, tem casos
E tu me dás caso de tua vida, pescador
Tu vês no escuro, pescador
Tu sabes o nome dos ventos
Porque ficas tanto tempo olhando o céu sem luar?
Vai, vai, pescador, filho do vento, irmão da aurora”
Encontrei pescadores, filhos do vento, irmãos da aurora, pelas águas do Rio Taquari, do Jacuí, da Laguna dos Patos, pelos molhes do Rio Grande, de São José do Norte. No Rio, Espírito Santo, por todo o Nordeste, em Punta del Diablo, no Uruguai, lá estavam cênicas canoas com criativos nomes.
Há pouco, os descobri em Santa Catarina. São Francisco do Sul, Laguna, Garopaba.
Em enseada, encontro próximo, ao entardecer. Preparando canoas, preparando redes, para “ouvir o canto misterioso das águas no firmamento”.
Ali soube que saíam à noite ou início da madrugada, pois peixes vêm à superfície em busca de alimentos. Também porque vento sopra, em geral, da terra ao mar, impulsionando barcos. Voltam de dia, com vento do mar à terra.
São fenômenos que esfriamento e aquecimento de águas e terra explicam. Explicações físicas, contudo, não alteram colorida beleza do cenário, não dissolvem fantasias da íntima relação homem, barco, águas.
Em silêncio, falo com o olhar:
Vão, vão, pescadores do luar...
P.S.: Muitos barcos abrigam-se, na orla, em garagens construídas sob as casas dos pescadores.
COMENTÁRIOS
em 24/06/2022
Interessante olhar. Cada atividade tem sua peculiaridade.