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Rio Grande,02/11/2025

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André Zenobini

O Escultor Esquecido: O Silêncio da Cidade do Rio Grande no Centenário de Érico Gobbi

Esse descaso é mais do que uma falha pontual, é um sintoma de uma crise de identidade.


O Escultor Esquecido: O Silêncio da Cidade do Rio Grande no Centenário de Érico Gobbi


Em 2025, a cidade do Rio Grande teve a oportunidade de recordar o centenário de nascimento de Érico Gobbi, um dos maiores escultores do Rio Grande do Sul, reconhecido internacionalmente, e pai de diversas obras que decoram o município. Mas o que poderia ter sido uma homenagem à altura de sua obra e legado transformou-se em um silêncio institucional, um esquecimento de um artista que faz parte do cotidiano de todos nós. Nenhuma exposição, nenhuma nota oficial, nenhum gesto público. Gobbi, que moldou em pedra e bronze tantas personalidades, foi deixado de lado pela própria terra que o viu nascer.


Érico Gobbi, que nasceu em 9 de agosto de 1925 e nos deixou em 2009, não foi somente um escultor, foi um intérprete da matéria. Suas obras, muitas delas espalhadas por praças, prédios públicos e coleções particulares, revelam uma sensibilidade rara e uma técnica refinada. Gobbi soube captar a história regional com uma expressividade que transcende o tempo. Sua produção dialoga com os grandes nomes da escultura brasileira, mas sempre com um sotaque local, com raízes fincadas na cultura rio-grandina.


Entre suas principais obras, a Estátua de Iemanjá, que recebe a todos na Praia do Cassino, com mais de dois metros de altura. Ainda, o Jesus Cristo na Praça Tamandaré e Nossa Senhora de Lourdes, na Ilha dos Marinheiros. Outros tantos lugares e pontos turísticos possuem marcas de Gobbi, que foi aluno e auxiliou o famoso escultor Matteo Tonietti a esculpir.


O que explica o apagamento de Gobbi no ano de seu centenário? Falta de memória popular e acadêmica? Falta de vontade política? Falta de sensibilidade cultural? Talvez um pouco de tudo. O fato é que nenhuma iniciativa relevante partiu do poder público e das instituições culturais. A cidade que abriga esculturas de Gobbi em seus espaços urbanos não se deu ao trabalho de lembrar o homem por trás da arte.


Esse descaso é mais do que uma falha pontual, é um sintoma de uma crise de identidade. Quando uma cidade esquece seus artistas, ela esquece a si mesma. Gobbi não é somente parte da história da arte, ele é parte da história da Cidade do Rio Grande e está por vários cantos, adornando e lembrando que a cidade é bela. 


O silêncio diante do centenário de Gobbi revela uma negligência que vai além da arte. Seu estúdio segue fechado e os movimentos pelo resgate de sua obra são ainda bastante silenciosos. No seu ateliê, sua maior obra vive às sombras, a escultura de Raphael Pinto Bandeira, herói na retomada do município do domínio espanhol em 1776. A estátua do combatente sobre um cavalo tem quase três metros de altura e pesa duas toneladas. Foi construída em 1975 e se encontra na oficina do escultor, sem acabamento. 


A situação de Gobbi é um alerta sobre como tratamos nossa memória, nossos criadores, nossos símbolos. A ausência de homenagens não apaga sua obra, mas enfraquece o vínculo entre a cidade e sua própria cultura. E tudo isso por questões financeiras. Há muito tempo, familiares e o Executivo não conseguiram chegar a um acordo não só pela estátua de Pinto Bandeira, mas por toda sua coleção. Contudo, é preciso. Uma solução faz-se necessária. 


Ainda há tempo para reparar esse erro. Que se organize uma retrospectiva de sua obra. Que se publiquem catálogos, se promovam debates, se restaurem esculturas esquecidas. Que as escolas falem de Gobbi, que a cidade se reconecte com sua história.  Que possamos revisitar o ateliê, que ainda conta com uma grande quantidade de obras prontas ou em finalização. 





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