Samuel Ferreira

Sorrisos Forçados e Shandmaskes : seriam as redes sociais uma atualização das Máscaras da Vergonha medievais?
Traço esse paralelo e busco essa relação na tentativa de refletirmos que as Redes Sociais não precisam ser um espaço de engodo, de negação das partes reais da nossa humanidade.

Freio de Scold, Ferro de Bruxa e Cabeça de Porco são somente alguns nomes dos tipos de Máscaras da Vergonha ou Máscaras da Humilhação que estão em exposição em Das Kriminalmuseum na cidade alemã de Rothenburg ob der Tauber, na região da Bavária. Essas máscaras eram na verdade estruturas de ferro ou de outro tipo de metal, parecidas com capacete ou até mesmo com uma gaiola, que fechavam a cabeça de determinadas pessoas consideradas hereges durante a Idade Média, nas regiões que hoje estão Alemanha e Bélgica.
Essas máscaras da humilhação, nos demonstram muitas coisas sobre a forma de torturar certos indivíduos (na sua maioria mulheres, consideradas bruxas) e permitir que eles servissem como exemplo do que não fazer nas suas comunidades. A punição estava direcionada para aqueles que cometessem os “crimes” de falar demais, fazer intriga, serem muitos glutões ou outros comportamentos considerados “anormais” ou pecaminosos.
O Freio de Scold, o estilo mais comum de máscara de tortura através destes métodos, era uma máscara que envolvia toda a cabeça de quem estava sendo punido, trancada por um anel de ferro que fazia a volta no pescoço, uma placa de ferro que penetrava a boca (impedindo a pessoa de falar corretamente e sem desconforto) e por vezes, um sino no topo da máscara, para aumentar ainda mais a humilhação. Os tormentos que tal tortura fazia nas pessoas eram muitas vezes incontornáveis, fazendo com que esta humilhação se tornasse pública, expondo tais condenados ao ultraje, sendo vilipendiados por tudo e todos. Acabavam desta forma, ficando marcados socialmente (como leprosos nos tempos bíblicos), apartados do demais, mesmo que convivessem juntos.
Para além de toda dor física e psicológica que eram causadas, essas máscaras da humilhação era criadas nos mais diversos formatos: zoomórficas, diabólicas ou trazendo a feição dos mais diversos monstros medievos. Mas ambas traziam uma singularidade: quase todas elas estavam moldadas para trazer no formato das bocas um riso ou sorriso. Fazendo com que independente do sofrimento causado, os indivíduos punidos, traziam sempre um sorriso no rosto. Um sorriso falso, mas um sorriso.
Atualmente, na “Sociedade do Self” onde todos e todas estão sorridentes e felizes de forma intermitente e sem intervalos, na necessidade quase que ditatorial de parecer felizes e satisfeitos, as Shandmaskes têm me direcionado quase que instantaneamente para as redes sociais (a rede Gramática dos Instantes, principalmente), onde estamos sempre sorridentes, por mais que a nossa vida seja ou esteja ao contrário disso. Não sou contra as Redes Sociais, não sou contra os sorrisos. Traço esse paralelo e busco essa relação na tentativa de refletirmos que as Redes Sociais não precisam ser um espaço de engodo, de negação das partes reais da nossa humanidade. Os sorrisos fazem parte de nossas vidas, mas as tristezas, a raiva, o choro também fazem. Da mesma forma, a fotografia não foi criada para registrar somente sorrisos, não foi isso que Louis Daguerre almejava. A fotografia é para registrar a vida na sua completude. Será que conseguimos fazer uso das redes sociais sem que elas sejam um ardil para nós mesmos?
As Shandmaskes, eram colocadas por outras pessoas, na tentativa de controlar, torturar e disciplinar sujeitos.
As redes sociais, são “máscaras” que nós mesmos colocamos.
Faz sentido para ti?
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