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Rio Grande,12/05/2025

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Luiz Pereira das Neves Neto

Século da Ansiedade: como transpor a necessidade do planejamento excessivo?

Vivemos em um tempo marcado por um paradoxo curioso: nunca tivemos tantos recursospara prever, calcular e organizar o futuro — e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tãoansiosos diante dele. Chamado por muitos estudiosos de o "Século da Ansiedade", o séculoXXI tem sido palco de uma crescente inquietação coletiva, alimentada por incertezaspolíticas, crises ambientais, mudanças tecnológicas aceleradas e, claro, pela hiperexigênciada performance constante.

Nesse cenário, o planejamento, que deveria ser um aliado datranquilidade, tem se tornado, muitas vezes, um gatilho de angústia.A cultura contemporânea parece ter transformado o “ter um plano” em uma condição paraexistir. Somos ensinados a ter metas de cinco, dez, vinte anos, a antecipar cada passo davida profissional, pessoal e até afetiva.

Plataformas digitais nos estimulam a "organizartudo", enquanto aplicativos de produtividade se tornam extensões de nossa identidade.Mas, quando o planejamento vira uma prisão, o presente se esvazia — e o futuro vira umaameaça em vez de uma promessa.Não se trata de demonizar o planejamento em si. Ele é necessário, sobretudo em contextosde vulnerabilidade social, como o que atinge muitos dos jovens com quem atuo naeducação profissional. Planejar é, também, um exercício de resistência frente àsdesigualdades.

No entanto, quando o planejamento passa a demandar controle absolutosobre variáveis que, por natureza, são imprevisíveis — como a saúde, os afetos, o tempo—, o efeito colateral é um estado constante de frustração.A pergunta que se impõe é: como transpor essa necessidade de planejamento excessivosem cair na armadilha da irresponsabilidade ou da paralisia? Uma possível resposta está naprática do "planejamento flexível" — um modo de pensar o futuro com responsabilidade,mas sem rigidez. Em vez de rotas fixas, mapas com múltiplas trilhas.

Em vez de respostasfechadas, perguntas mobilizadoras.Isso requer um exercício de presença. De escuta. De atenção ao que pulsa no agora. Comonos ensina a filosofia estoica — hoje redescoberta por muitos jovens —, o que está sobnosso controle deve ser conduzido com clareza e foco; o que não está, precisa ser acolhidocom serenidade. A ansiedade, muitas vezes, nasce da tentativa de controlar o incontrolável.

Transpor o planejamento excessivo é, acima de tudo, reconectar-se com a vida como ela é:inacabada, incerta, surpreendente. É fazer da imprevisibilidade uma aliada da criatividade enão um obstáculo ao sucesso.Talvez, no fundo, o século da ansiedade precise ser também o século da coragem: coragemde confiar, de improvisar, de recomeçar.E se a verdadeira liberdade não estiver em planejar tudo, mas em aprender acaminhar mesmo quando o caminho ainda não está totalmente desenhado?



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