Com retração no mercado interno, exportações de sucata ferrosa crescem 21,3% no primeiro semestre
Demanda fraca das siderúrgicas e crise na cadeia de aço, com tributação dos EUA e importações da China, desestruturam setor

As exportações de sucata ferrosa, insumo usado na fabricação de aço, continuaram a aumentar em junho e já alcançaram no primeiro semestre deste ano 417.709 toneladas, uma alta de 21,3% em relação ao mesmo período de 2024, quando atingiram 344.324 toneladas.
Apenas em junho deste ano, as exportações chegaram a 84.207 toneladas, uma expansão de 23,8% em comparação ao mesmo mês de 2024, conforme dados divulgados pelo Ministério da Economia, Secex.
O crescimento das vendas externas de sucatas ferrosas no ano – que se referem apenas aos volumes excedentes não consumidos internamente -- se deve principalmente ao baixo interesse na aquisição por parte das usinas siderúrgicas no Brasil, devido à retração na produção de aço, ocasionada pela política de tributação do governo dos EUA, segundo o Instituto Nacional de Reciclagem (Inesfa), órgão de classe que representa mais de 5,5 mil empresas recicladoras que praticam a economia circular, reinserindo insumos no ciclo da reciclagem para transformação.
"A nossa expectativa é de que, em julho e nos próximos meses, o quadro não se altere e as exportações continuem sendo uma alternativa das empresas às dificuldades internas", afirma Clineu Alvarenga, presidente do Inesfa. De acordo com informações de pesquisa semanal realizada pela S&P Global Platts, agência americana especializada em fornecer preços-referência e benchmark para o mercado de commodities, "as siderúrgicas mantiveram compras muito fracas (de sucata) e os recicladores reduziram as aquisições por conta dos estoques cheios".
"O aumento da importação de aço, de países como China, Índia, Egito e Turquia, aliada as dificuldades de exportação para os EUA, com as tarifas impostas pelo governo Trump, vem desestabilizando todo o ciclo da transformação, com forte redução da produção interna de aço das usinas siderúrgicas e, consequentemente, queda na demanda por sucata ferrosa", diz Alvarenga.
Tributação
Para tentar amenizar essa crise, o Inesfa continua empenhado no Senado Federal para aprovação do Projeto de Lei 1.800/2021, do deputado federal Domingos Sávio, que traz apensada a proposta do deputado federal Vinicius de Carvalho, visando isentar recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins na venda de materiais reciclados à indústria de transformação. O PL, já aprovado por todas as Comissões da Câmara dos Deputados, está em análise no Senado. Foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) da Casa e agora será avaliado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), para em seguida ir à sanção presidencial.
A PEC da Reciclagem, por sua vez, que altera a Constituição Federal para assegurar ao insumo reciclado tributação inferior à incidente sobre os insumos virgens extraídos da natureza, também está avançando. Conforme Alvarenga, a PEC já tem mais de 120 assinaturas favoráveis de parlamentares, mas necessita de 171 para ser avaliada pelo Congresso.
Estudo: Reciclagem de Materiais Ferrosos no Brasil
Uma das principais consultorias do Brasil na área de metalurgia, entre outros segmentos, a MaxiQuim, deve concluir nos próximos meses estudo a pedido do Inesfa com informações atualizadas do setor de reciclagem de materiais ferrosos, tais como volume, geração, processamento.
"Assim como já fez para os recicladores de papel e plástico, a consultoria está levantando os dados do mercado de reciclados de ferro e aço. Os três estudos serão importantes como referência ao governo federal para instituir políticas públicas assertivas ao incremento da reciclagem e desenvolvimento da economia circular", diz Alvarenga.
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