Marisa Martins

RESISTIRÁS, CABO POLÔNIO?
Em Cabo Polônio acreditam num mundo não violento. Ainda...

RESISTIRÁS, CABO POLÔNIO?
Marisa Martins
Em Cabo Polônio acreditam num mundo não violento. Ainda...
Cabo Polônio e seu vilarejo. Litoral do Uruguai. Entre Punta del Diablo e La Paloma, diferente de todos os lugares que se dizem ecológicos, primitivos. Resiste, ainda, a intervenções que agridam a agreste natureza. Como resiste a fortes ventos o açoitando, por vezes, e que, no passado, fizeram naufragar navios.
O farol, de 1881, é cartão postal. Recebe energia elétrica subterrânea. Assim, continua a sinalizar caminho das águas para embarcações que por ali passam.
Na costa do Cabo, três ilhas: La Encantada, Roqueda e Rasa, morada de gaivotas e de leões marinhos.
Cantor e compositor Jorge Drexler, seduzido por Cabo Polônio, escreveu canção ao farol: “... no es la luz lo que importa, en verdad son los doce segundos de oscuridad”.
A ele fascinou, em especial, aqueles doze segundos de escuridão, quando estrelas parecem reluzir mais. Não é, porém, só o espetáculo do céu estrelado que magnetiza no lugarejo escondido entre dunas uruguaias e o Atlântico.
Cativa a simplicidade. Tudo é singelo junto à natureza intocada.
Ruelas de areia e de capim, desordenadas, entre inusitadas e toscas moradas e hostels; minimercado; conjunto de coloridas tendas com artesanato; improvisados e graciosos restaurantes. Semelha o conjunto, surpreendente e matizada aquarela.
Cataventos produzem energia eólica; placas captam energia solar. Não há água encanada.
Água é recolhida da chuva, ou de poços abissínios, extraída com bombas manuais. Lixo orgânico é colocado em caixas e transformado em compostagem. Não se vê lixo seco espalhado. É recolhido pela administração do Parque.
Relaxados em redes e almofadões, à noite, grupos tocam, cantam, conversam, meditam. Velas, além das estrelas, os iluminam.
Ao menos, enquanto estiverem em Cabo Polônio, acreditam num mundo não violento, de desapego ao ter. Celebram a essência do ser.
Até quando resistirá o paraíso intocado, de paz e amor?
P.S.: Não é permitido acampamento no vilarejo de Cabo Polônio. Para chegar nele usam-se veículos especiais 4X4, autorizados, a partir de centro de turismo, com estacionamento, na Ruta 10.
Foto: arquivo pessoal
COMENTÁRIOS