Ique de la Rocha
Projeto original de arquiteto chileno tem mais de 23 anos e nada aconteceu ainda

Coluna de Ique de la Rocha
Projeto original de arquiteto chileno tem mais de 23 anos e nada aconteceu ainda
O projeto de revitalização do Porto Velho
Ainda no governo Antônio Britto, o Governo do Estado contratou o prestigiado arquiteto chileno Raul Macadar para fazer o projeto de Revitalização do Porto Velho do Rio Grande, que incluía também o Rincão da Cebola. Na entrega do trabalho só faltou banda de música. “Agora sim, Rio Grande vai definitivamente mudar para muito melhor o visual e a mobilidade no Centro Histórico”, imaginaram os que tomaram conhecimento do projeto, que previa até uma ponte para veículos ligando a Riachuelo à rua Francisco Campello (a do Rincão da Cebola), passando na frente da atual Hidroviária, que sairia de onde está. Essa passagem, em formato de curva bem aberta, ficaria por cima da água, na frente do cais. Também estavam previstas a construção de marinas e trapiche avançando sobre a Lagoa dos Patos, mas aí pessoas ligadas à área do Patrimônio Histórico começaram a criticar o projeto e nada aconteceu.
Já se passaram 23 anos
Conheci o arquiteto Raul Macadar quando ele, certa vez, esteve na Superintendência do Porto na expectativa de agilizar a execução do projeto. Na época o prefeito era Janir Branco. Ou seja, já vamos para 14 anos daquele encontro, e o chileno foi contratado no Governo Britto, que durou de 1995 a 1999. Então desde a contratação para a execução do projeto de Revitalização do Porto Velho se passaram, no mínimo, 23 anos. A parte do Rincão da Cebola foi feita, mas não conforme o projeto original, que previa trapiches, estrutura para esportes náuticos e espetáculos culturais. E o restante até agora nada. Em 2020 a Superintendência dos Portos formou uma comissão e um grupo de trabalho para tratar do assunto. Parece que reunião não faltou nesses 23 anos, mas isso lembra uma cena que presenciei há muitos anos atrás. Eu estava numa entidade de classe da cidade e chegou um cidadão querendo falar com o presidente. Já era a terceira vez que ele tinha estado lá sem conseguir ser recebido pelo dirigente, sempre em reunião, e desabafou para os atendentes: “Se reunião resolvesse alguma coisa Rio Grande seria uma metrópole. Nesta cidade estão sempre em reunião!”, protestou.
A orla de Porto Alegre
O que motivou este comentário foi a notícia do site G1, que destacou as obras de revitalização na orla de Porto Alegre. Aqueles investimentos mudaram a cara da nossa capital, que hoje está em outro patamar e proporciona lazer e qualidade de vida à sua população. Comerciantes estão lucrando. O por do Sol e o Guaíba foram extremamente valorizados. Lendo a matéria, mesmo com as diferenças entre Porto Alegre e nossa cidade, imediatamente veio à cabeça a tão sonhada revitalização do Porto Velho, mas infelizmente no Rio Grande a gente só pode ficar chorando as perdas ou os sonhos desfeitos. A cidade do “já teve” também pode ser chamada de “a cidade que poderia ter”, pois lamentavelmente por aqui as coisas não acontecem. Parece que Rio Grande não pode pensar grande.
Será?
E fica uma dúvida para dividir com os leitores: se as mesmas obras realizadas na orla de Porto Alegre fossem previstas para Rio Grande, será que elas teriam se concretizado? Ou, se esse pensamento reinante em Rio Grande fosse o mesmo em Porto Alegre, as obras realizadas na orla da capital teriam saído do papel?
Tem coisa errada
Não agrada criticar minha cidade. Acredito que ninguém goste disso, mas também penso que a melhor forma de ser otimista é, em primeiro lugar, encarar a realidade e, a partir daí, pensar em práticas possíveis de serem concretizadas. Não adianta só empurrar tudo para baixo do tapete porque, mesmo escondida, a realidade não foi desfeita. Na Medicina: para curar o paciente o médico precisa, primeiro, ter o diagnóstico correto. Numa empresa a mesma coisa. Se ela vai mal e os responsáveis não encararem a realidade ela vai acabar falindo. Ouço algumas pessoas defendendo que temos de exaltar as coisas positivas do Rio Grande. Concordo e respeito essas opiniões que são repletas de boa vontade e também de bairrismo. Acho, inclusive, que para as pessoas de fora a gente tem de exaltar a nossa terra, mas aqui dentro podemos “lavar a roupa suja”. A intenção desta coluna é provocar a discussão entre os riograndinos, não que não se acredite na cidade, muito pelo contrário: justamente por ver potenciais que podem e devem ser explorados. A tendência natural das cidades é o crescimento. Se elas ficam estagnadas ou dão para trás é porque tem coisa errada. Tanto que muita gente já deixou Rio Grande em busca de oportunidades fora daqui. Temos que nos envolver mais com a cidade, demonstrar mais espírito comunitário, cobrar posicionamentos e ações das autoridades competentes e de nossas lideranças para que amanhã nossos filhos ou nossos netos não tenham que ir para longe do nosso convívio em busca de uma vida melhor e mais digna, como já está ocorrendo.
Correspondências à coluna pelo email: iquedelarocha@gmail.com
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