Marisa Martins
 Resgate da Infância
“Na infância... Bastava o sol lá fora e o resto se resolvia.” – Fabrício Carpinejar
 RESGATE DA INFÂNCIA
Marisa Martins
“Na infância... Bastava o sol lá fora e o resto se resolvia.” – Fabrício Carpinejar
Revejo uma foto. Guardei nela a lembrança de amena e colorida tarde em Times Square, Nova York. Olho, atentamente, traço a traço, cada rosto, cada olhar, cada sorriso infantil.
Surgiram entre a multidão, junto a numerosa família. Sul-americanos, por certo. Pelo tipo físico, bolivianos ou peruanos.
Em meio ao caleidoscópio humano, postam-se agrupados. Pedem para serem fotografados. Parecem felizes. De uma felicidade quase ingênua, de tão simples e verdadeira. Pais, mães, filhos, netos. Quantas gerações? Que história os une em Nova York?
A infância ali, junto à felicidade adulta.
Existe nos rostos das crianças, junto à alegria, a infância resgatada.
Aquele resgate de crianças sem adultização. Sem atropelos à idade real. Sem apelos para adiantar o tempo. Humano ou tecnológico. Apesar da pressão. Humana ou tecnológica.
Antecipar o relógio das mudanças é perverso. Agressão ao tempo psicológico infantil. Marcas profundas serão lesões permanentes.
Aqueles rostos de crianças da tarde de domingo americano lembraram outra tarde, outros rostos. Na Laguna dos Patos, Rio Grande. E revi mais uma foto.
Em meio a explicações de adultos sobre guindastes, navios, dragas, sons e movimentos, menino brincava de marujo, olhos fixos no horizonte, mãos no leme, como se mirasse o futuro, e o quisesse desvendar.
Nada mais importava. Embalado no ritmo das marolas que quebravam no costado do barco, cantarolava baixinho. Com quem se comunicava? Com seres imaginários? Com água? Que fantasias passavam em sua mente?
Ali vi, também, a infância resistir. Viver o momento criança. Não sabia por quanto tempo.
Ali, Carpinejar diria... Bastava os olhos no horizonte de água, e o resto se resolvia.
Assim, em Times Square, eu diria... Bastou ser criança e tudo se resolveu. A infância ainda pode ser resgatada...
P.S.: Alguém colocou que é preciso ter o tempo de viver cada momento, e não de ser vivido por ele.
Ajudamos as crianças a terem esse tempo?
Foto: arquivo pessoal
 
 



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