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Rio Grande,12/07/2025

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Marisa Martins

Ninho Vazio

“Não há limites para voar, Fernão. A aprendizagem acaba de começar.” Richard Bach


Ninho Vazio

NINHO VAZIO

Marisa Martins

aloha.marisah@gmail.com 


“Não há limites para voar, Fernão. A aprendizagem acaba de começar.”

 Richard Bach


Olho desconsolada, página vazia diante de mim. Tarde fria     tinge-se de tímidos tons dourados e pinceladas de verde, convidando a caminhar. Perambulo, sem definições nos pensares, sem parágrafos, pontos e vírgulas. Muito menos início, meio e fim.

Página em branco, dominadora, quer, urgente, palavra após palavra, não importam se períodos longos ou curtos. Importa a avidez por se ver preenchida. E não tenho vontade, agora, de girar mundos, aprofundar temas ou desvendar mistérios.

Olhar vagueia através da vidraça. Busca urgente inspiração. Placidez. Marrequinho nada no lago, cachorros fixam a distância, sentados, tais bibelôs. Aragem balança, levemente, palmas de butiazeiros.

O que buscava – inspiração – é-me trazida, de repente, por ruflar de asas. Pequeno pássaro voa pra lá e pra cá. Vai ao gramado, bica seguidas vezes. Retorna, célere, ao alpendre. 

Algo muito importante, em movimento, acontece diante de mim. Não posso continuar estática.

Pego a câmera. Acompanho o voo. A resposta para o vai e vem de asas está logo ali. Numa casinha para pássaros.

Espiando por abertura, airoso e feliz, filhote plumoso aguarda amorosa mãe. Esta, é indiferente à minha presença. Fixada em alimentar rebento, encosta biquinho no dele. Dá-lhe algo pequenino. Semente? Inseto?

Fortalecido, após as muitas incursões alimentares maternas, treina independência. Sacode-se. Faz alongamentos. De repente, flap, flap, aciona as minúsculas asas. E voa. Voo com ele. “A aprendizagem acaba de começar”...

Não vai longe. Busca lugar para pouso. Encontra-o logo adiante. Entre verdes. Parece orgulhoso. Mais sacudidelas. Flap, flap, flap. Vai-se. Aonde? Ao infinito da liberdade. “Não há limites para voar”

Não vejo mais a mãe. Nem outros filhotes na casinha. Só gravetinhos. Ninho vazio. Quedo-me triste.

Mãe e filho preencheram página em branco. Ficou um ninho vazio. 

Aguardarei outros voos. Limparei a casinha. Colocarei alpiste. Será preenchida a saudade dos alados companheiros?

Ou ficará a alma como o ninho?


P.S.: Muitos voos preenchem outros espaços.

Naquele ninho, porém, não houve mais ruflar

de asas.


Foto: Arquivo pessoal



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