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Rio Grande,08/06/2025

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e-COO: tecnologia e cooperativismo transformam a agricultura familiar no Sul do Brasil

O projeto reúne 18 produtores de cidades da região sul do RS, promovendo uma cadeia curta de comercialização, justa e sustentável.


e-COO: tecnologia e cooperativismo transformam a agricultura familiar no Sul do Brasil Foto: Gabriel Veríssimo
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“Eu sou feliz aqui, porque eu sempre tive vontade de estudar na FURG. Para quem nunca estudou, estar aqui, participar da Universidade, é uma realização”, afirmou Júlia Oliveira, agricultora familiar da região da Quitéria, zona rural da Cidade do Rio Grande.


Foto: Gabriel Veríssimo

Aos 72 anos, Júlia está entre os 18 produtores da região que fazem parte do projeto "e-COO – Cooperativismo de Plataforma: inovação e tecnologia social para o fortalecimento da agricultura familiar da região geográfica imediata de Pelotas”. A iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) está transformado a vida de produtores rurais da região sul do Rio Grande do Sul, fomentando a agricultura familiar local, a economia e levando renda para aqueles que levam produtos saudáveis para a mesa da população.

O projeto reúne 18 produtores familiares dos municípios do Rio Grande, São José do Norte, Morro Redondo e Canguçu, buscando fomentar o empreendedorismo comunitário e a valorização dos saberes locais por meio de tecnologias sociais e economia criativa. Criado em março de 2024, o e-COO é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e aprovado pelo CNPq, e conta com a parceria da Universidade de Toronto, no Canadá.


Foto: Gabriel Veríssimo

O e-COO funciona desde 2024m com um espaço físico no campus Carreiros da FURG, em Rio Grande-RS, onde é realizada uma feira semanal com a comercialização de produtos agroecológicos. Além de frutas, verduras e legumes, no local, também é possível encontrar cosméticos artesanais, pães, bolos, compotas e ervas medicinais.

A coordenação do projeto está dividida entre o Centro de Ciências Computacionais (C3), o Instituto de Letras e Artes (ILA) e o Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico (Nudese). “O projeto uniu várias unidades da FURG, como o Centro de Ciências Computacionais (C3), o Instituto de Letras e Artes (ILA) e o Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico. Além disso, integrou outras instituições, como o IFSul e a Universidade de Toronto. Todo o desenvolvimento da plataforma foi realizado com base na proposta de cooperativismo de plataforma e economia solidária”, destaca a coordenadora do projeto, Lúcia Nobre.


Foto: Gabriel Veríssimo

Há um ano no projeto, a agricultora Júlia Oliveira enfatiza os benefícios que o e-COO está trazendo para a sua produção, fazendo com que seus produtos alcancem lares que antes estavam distantes. “Eu faço feira há mais de 45 anos e é muito bom estar aqui, ainda mais perto da juventude. Estou aqui desde que iniciou, em março de 2024, depois veio a enchente, precisamos parar e voltarmos. Estar aqui dentro é muito importante, por mais que a juventude goste de internet, a presença humana nunca vai nos abater. Aqui conversamos, explicamos os produtos, como cultivamos”, afirmou.

No espaço, dona Júlia apresenta os frutos de mais de 55 anos dedicados ao campo. “Nós apresentamos o hortigranjeiro. Então é assim: como a agricultura familiar tem a questão do tempo dela, vamos dizer... no inverno, você colhe alface, couve, aí você colhe todas como verduras. Aí você vai indo, aí depois vem morango, que aí é a partir de agosto. Depois vai com as verduras de sempre, né? Épocas com muita e épocas com menos. Isso aí é normal. E no verão, nós temos melancia, melão, tomate, sempre tomate gaúcho, que é o nosso, né? O que tem lá em casa vem, né?”, comentou a agricultora Júlia Oliveira.


Foto: Gabriel Veríssimo

Além de hortifrúti, o espaço físico e digital do e-COO também abriga produtos naturais elaborados artesanalmente. A produtora Valdineia Mendes, também da Quitéria, apresenta no projeto a linha “Princípios da Saúde”, com sabonetes, loções e cremes produzidos de forma sustentável.

“Eu estou aqui há quase um ano. Daí, na época da enchente, as gurias foram lá onde eu morava, oferecendo cestas básicas. Elas me acharam e me chamaram para trabalhar aqui. Daí, então, já faz aproximadamente um ano que eu estou aqui. Eu amo a fitoterapia e, desde criança, o pai já vendia plantas medicinais, entendeu? Então, eu estava sempre ali, no mato, colhendo as plantas para tratar as pessoas. Depois, com o tempo, eu fui estudando mais, me aperfeiçoando, né? Aprendendo a fazer as tinturas, a fazer as pomadas, fazendo cursos de fitoterapia. Mas já vem no sangue, né?, comentou Valdineia.

A empreendedora ressalta que produz seus produtos desde a base, do cultivo até a finalização da embalagem. Além disso, ela comemora que o projeto está ampliando o seu público consumidor. “Eu pego desde a planta, que tá ali a muda, né? Depois, eu a trago desidratada, forma de extratos, de óleos, xarope. Trago as plantas em forma de pomadas e coloco elas dentro dos sabonetes. Todos os sabonetes têm tinturas de plantas também. Eu não compro nem a base dos óleos, eu os transformo em sabonetes. Estar aqui as vendas e eu comecei também a aumentar os produtos, né? Porque cada um vai ajudando outras pessoas, e a gente vai sempre tendo ideias de inventar coisas novas, né? De fazer coisas novas. Agora, por exemplo, nessa semana, eu trouxe as plantas em saquinho, desidratadas. Para quem quer botar no chimarrão, para quem quer fazer um tratamento externo, enfim. Ou quem simplesmente gosta de ter a planta mesmo para tomar o chá”, destacou a produtora Valdineia Mendes.


Plataforma e-COO

Em maio de 2025, o e-COO deu um novo passo para o incentivo a inclusão produtiva: no último dia 22 de maio, o projeto lançou um aplicativo próprio, que transforma a cooperativa em uma plataforma virtual de venda direta, aproximando ainda mais os produtores dos consumidores. Agora, qualquer pessoa pode, através do celular, montar sua cesta de produtos da agricultura familiar e receber em casa.

O diferencial da plataforma está na gestão coletiva e na forma em que foi desenvolvida. Durante o processo de criação, os próprios agricultores participaram da concepção do aplicativo, sugeriram funcionalidades e definiram os critérios de precificação.

O aplicativo está disponível de domingo a terça-feira. Durante esses dias, os consumidores podem acessar o catálogo dos produtos e escolher o que desejam receber. A entrega dos pedidos ocorre sempre às quintas-feiras, com a opção de recebimento em casa ou retirada na feira presencial, das 9h às 18h, na sede do Armazém e-COO, localizado dentro da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Com caráter solidário, o valor arrecadado através das vendas realizadas por meio da plataforma é direcionado aos próprios agricultores, promovendo a valorização da produção local e garantindo mais renda para as famílias envolvidas.


Foto: Gabriel Veríssimo

Em um cenário de incertezas climáticas, em que os produtores foram diretamente atingidos pelos eventos extremos ocorridos na Cidade do Rio Grande nos anos de 2023 e 2024, o e-COO surge como alternativa para fomentar a agricultura local, através da união entre tecnologia e o saber tradicional.

Para Júlia, que sempre sonhou em ter algum vínculo com a universidade, o e-COO é mais do que uma fonte de renda. “ Aqui é um lugar diferente, é como se fosse algo muito bom, sabe? A gente sente que é dono da e-COO. Quem faz o sistema funcionar somos nós, os agricultores e temos as meninas da FURG, que são como professoras para a gente, nos ajudando com o que a gente não entende, como a burocracia e a internet. Aqui, a renda também é coletiva. Tudo que a gente vende, 20% fica com o projeto, mas não é para alguém específico, é para todos nós. Depois que tudo é vendido, fazem a soma e cada um recebe na sua conta. E esse dinheiro também ajuda em outras coisas: se estraga algum produto, ou se precisa comprar algo para acolher quem está começando, esse fundo garante. Como é tudo dividido, ninguém sai no prejuízo. É um sistema que funciona em conjunto”, destacou.

O e-COO representa na prática os valores como o fortalecimento do empreendedorismo, a geração de renda sustentável e o impulso à economia local entre populações historicamente vulneráveis. Ao unir saberes populares, inovação social e tecnologia, o projeto transforma a lógica de produção e comercialização no campo, promovendo autonomia, inclusão produtiva e valorização das potencialidades regionais.



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