Café com Z recebe diretores de curtas-metragens exibidos na 6ª Mostra de Cinema Latino-Americano do Rio Grande
Durante a entrevista, os convidados Jesline Cantos e Diogo Azevedo falaram sobre seus filmes O homem que foi inédito duas vezes e A última sessão de cinema, que estreiam nesta noite, às 20h, no Centro Histórico.
Na tarde desta sexta-feira, 29, o programa Café com Z, em O Litorâneo, recebeu os diretores de curtas-metragens exibidos na 6ª Mostra de Cinema Latino-Americano do Rio Grande, Jesline Cantos e Diogo Azevedo.
Durante a entrevista, os convidados falaram sobre seus filmes O homem que foi inédito duas vezes e A última sessão de cinema, que estreiam nesta noite.
Jesline comentou a expectativa para a pré-estreia do curta O homem que foi inédito duas vezes: "Foi um ano de muito trabalho. Então, poder comemorar com a equipe é um momento de celebração. Ver o projeto acontecendo, ajustado até os últimos detalhes, é muito gratificante. Essa experiência é única. Ainda mais porque, tanto para mim quanto para o Diogo, é a nossa primeira vez como diretores no cinema. Isso torna tudo ainda mais especial”, destaca.
Na oportunidade, a diretora também falou sobre a narrativa do seu filme:
"Eu sou formada em teatro, estudei teatro na UFRGS, e estou terminando psicologia agora, aqui na FURG, né? Também sou poeta, escrevo, e acho que não tem como dizer que não tem muito de mim ali. Sempre tem na obra do artista isso, né? A ideia do projeto surge um pouco antes do off-scene, né? Eu gosto muito de psicanálise. Dentro da psicologia, eu vou mais para a área da psicanálise. Eu estava fazendo até uma cadeira na faculdade e tinha que entregar um trabalho final. E eu estava lendo A Interpretação dos Sonhos, ali do Freud, né? Aí comecei a ler e achei muito bacana, e resolvi escrever um conto que contava a história desse personagem, que é o Lucas. Na época, era um conto, não um roteiro de cinema. E eu queria colocar essa ideia de como a gente tem conflitos com os nossos desejos, como a sociedade nos impede, um pouco, de acessar os nossos próprios desejos. A gente nem sabe mais qual é o nosso desejo, né? Tem alguém de fora nos dizendo isso e a gente não consegue olhar para si e perceber. Aí comecei a pensar: como vou colocar toda a história do Lucas, ligar com os sonhos dele? Porque, enfim, em A Interpretação dos Sonhos, o Freud vai falar ali, a clássica, que todo sonho é uma realização de um desejo. E eu quis criar toda uma ideia onírica, onde esses sonhos do Lucas têm relação com a vida dele, com esse conflito que ele está passando com as mãos, que também é uma metáfora para várias coisas. Então, acho que vai muito também disso, da psicanálise, principalmente dessa ideia de autoconhecimento, de olhar para si, de se perceber. A questão do sonho tem uma influência forte do surrealismo, que eu gosto muito. O surrealismo influenciou A Interpretação dos Sonhos também. Tem muito de teatro, né? Eu tenho essa visão da direção enquanto atriz, né? Porque eu atuo, comecei a fazer teatro com 16 anos. Então, acho muito bacana, tem muitos elementos teatrais. Eu comecei a fazer aqui. Sou daqui, comecei a fazer teatro ali no Teatro Municipal. Enfim, depois me mantive, fui fazendo, e, em seguida, fui para Porto Alegre, onde passei na faculdade lá. Então, tem muito disso, eu gosto muito do absurdo, do surrealismo. Tem muito de psicologia, de psicanálise. Acho que vai por aí", conta.
Na conversa, Diogo Azevedo destacou como seu trabalho busca dialogar com diferentes públicos:
"Meu filme foi pensado para circuitos gratuitos, que dialogam com todas as classes, em espaços democráticos. Eu acredito no cinema democrático, no cinema que conversa com as massas. Essa visão me fez querer dialogar mais. Venho da publicidade e do marketing, mas também tenho formação em artes visuais. Quis trazer minha poética para o cinema e construir algo íntimo e pessoal, mas que fosse de fácil compreensão para qualquer público que tenha acesso ao filme", comenta.
Além disso, explicou a história por trás do nome do seu curta-metragem:
"Esse filme é ambientado numa distopia cultural, onde o cinema como espetáculo — esse cinema como esse encontro físico com a tela, como esse espaço cultural — chega ao fim. E a gente acompanha, através do olhar de oito personagens, esse último encontro com o cinema como espetáculo. O filme vai passando por esses personagens que, na verdade, estão esperando começar o filme. Eles chegam, pegam a pipoca, sentam na poltrona. Então, enquanto eles esperam esse último filme começar, a gente começa a emergir um pouco na narrativa individual de cada personagem que está ali esperando esse filme se iniciar, nessa última sessão de cinema. Então, o filme traz muito de mim ali, porque, quando eu criei esses personagens, eu gosto muito de criar cinema com personas, né? Então, eu crio personas que têm muito de mim, das minhas vivências, do meu eu, dos meus ideais, ou até de vivências que já passei, que hoje já não sou mais, mas coloco ali esse recorte também na construção daquele personagem, porque, para mim, fica mais verossímil eu conseguir utilizar isso como base para criar essa persona. Então, todas essas personas passam por alguma vivência minha, uma poética, e, ao mesmo tempo, dialogam sobre pautas sociais que eu idealizo, algumas críticas sociais que gostaria de inserir. Como eu tinha dito antes, para que a população tenha acesso de uma forma dentro do basal, né? Eu gosto de trazer uma narrativa e uma poética fácil de ser compreendida. Então, é um cinema que flerta com o drama, mas definitivamente é um entretenimento que beira muito mais à comédia. Não é uma comédia para rir, mas é para entreter. Acho que ele entretém enquanto coloca ali os meus ideais em jogo e também traz um pouco de mim na construção de cada personagem", afirma.
Os curtas-metragens foram produzidos durante as aulas ministradas pelo Núcleo de Produção Audiovisual OfCine, do IFRS. Na oportunidade, os diretores estreantes comentaram como foi participar desse projeto, que é gratuito e aberto à comunidade.
"Foi em torno de quatro meses, que é uma aula todos os sábados pela manhã. E ela dá uma introdução muito boa para a gente ter princípios básicos de como produzir cinema. O que eu mais gosto é que a oficina é prática. Ela nos coloca já em jogo, nos coloca para produzir com material muito profissional. Então, eu percebia ali também a brecha, lendo como era a oficina, e que, no final, conseguindo concluir isso, teria um portfólio muito interessante para conseguir se inserir no mercado, com curtas hoje com uma qualidade tanto de captação, de imagem, de som, muito profissionais, que conseguem rodar tranquilamente em várias outras mostras", comentaram.
Todos os filmes produzidos pelo OfCine serão exibidos na noite desta sexta-feira, 29, a partir das 20h, no Largo Barbosa Coelho, integrando a programação da 6ª Mostra de Cinema Latino-Americano da Cidade do Rio Grande.
Confira a entrevista na íntegra:
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