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Rio Grande,29/04/2024

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Artista rio-grandina Ramile Leandro realiza exposição de arte na Itália

Formada em Artes Visuais pela FURG e em Arquitetura e Urbanismo pela UFPEL, a rio-grandina está expondo as obras “Cosenza a prima vista" no Museo dei Brettii e degli Enotri, em Cosenza, na Itália.


Artista rio-grandina Ramile Leandro realiza exposição de arte na Itália Foto: Arquivo Pessoal

"Sou de uma família humilde de trabalhadores do Rio Grande. O pai, Ocimar da Silva Leandro, hoje aposentado, trabalhou muito, como operário na Ipiranga, para sustentar os filhos. A mãe, Vera Lúcia da Silva Leandro, trabalha até hoje como secretária de um consultório médico.  Éramos quatro irmãos e decidir estudar arte não era opção. No entanto, eu comecei a desenhar sozinha, em casa", relata a rio-grandina Ramile Leandro, em entrevista ao O Litorâneo.

Marcando o início da Primavera Mediterrânea na Calábria, o Museo dei Brettii e degli Enotri, importante ponto turístico na cidade de Cosenza, está recebendo as obras “Cosenza a prima vista”, da artista rio-grandina Ramile Leandro, durante a exposição de arte "Locus, Loci". Retratando o mar da Calábria, as duas aquarelas expostas no museu italiano expressam não só a sensibilidade do olhar de Ramile, mas também o seu talento raro.

"As aquarelas foram pintadas na primeira semana que cheguei aqui na Calábria. Quando cheguei ao aeroporto tinha perdido as minhas malas. Tive que retornar para recuperá-las quatro dias depois da minha chegada. No retorno do aeroporto peguei o ônibus errado, que demorou duas horas para chegar em Cosenza. Ele fez uma grande volta na costa, entrando em todas as praias da região.  Esse "erro" e esse tempo dentro do ônibus me inspiraram, ao ver o mar de cima das montanhas, a pintar. No ônibus escrevi uma poesia, sobre a cor do mar e as casas abandonadas, lindas apesar de em ruínas, perto do azul forte que se misturava com verde esmeralda do mar", comenta a artista.


Atualmente, Ramile está em período acadêmico na Universidade da Calábria, desenvolvendo um projeto de residência para artistas em Morano Calabro. A artista explica que suas aquarelas conquistaram espaço na parede do museu italiano através de um edital direcionado aos artistas locais e estrangeiros. Ramile ressalta que a conquista na seleção lhe traz muita felicidade e direciona os agradecimentos aos seus pais e aos professores da FURG.

 "Na seleção de 2024, para a mostra Locus Loci, que abre a programação calabresa da Primavera Mediterrânea, o museu abriu vagas para artistas locais ou estrangeiros que apresentassem um projeto artístico, de no máximo duas obras, e comprovassem, através do currículo e portfólio, sua atuação profissional na arte. Eu fiquei muito emocionada quando recebi o e-mail de aceite do museu. Passar em uma seleção desse nível na Itália, onde são muito rigorosos quando se fala de arte, é um reconhecimento importante. Por isso, esse reconhecimento eu atribuo aos meus pais e a todos meus professores de Artes Visuais da FURG, assim como todos os meus clientes do Rami_aquarelas, que investiram e investem na minha arte. Sem essa base nada seria possível", destaca. 


A mostra foi inaugurada no dia 28 de março e ficará aberta a visitação até julho, durante a temporada de verão na Itália. 


A história da artista 


(Foto: arquivo pessoal)

Formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), a arte entrou na vida de Ramile ainda na infância, quando o lápis e o papel começaram a ocupar o lugar de outras brincadeiras. 

"Eu comecei a desenhar sozinha, em casa. Pintava imagens bíblicas e não sabia explicar o que fazia, apenas gostava de passar até oito horas ou mais desenhando marias e santos que eu não sabia o nome. Meus pais relutaram muito quando eu decidi seguir minha vocação e tudo que eu pedi a eles é que acreditasse em mim. Em  2005, abandonei o curso de Engenharia Civil da FURG e em 2009 conclui a graduação em Artes Visuais, pela Universidade Federal do Rio Grande", comenta.

Após iniciar a graduação de Artes Visuais, Ramile foi se apaixonando cada vez mais por sua vocação e ocupando cada vez mais espaços, até chegar ao berço do  Renascimento Cultural: a Itália. Ainda como estudante da FURG, a artista ganhou uma bolsa para estudar artes em Florença, onde conquistou espaço no mercado de arte italiano.


"Em 2010 consegui uma bolsa, por mérito de notas, em um programa de iniciativa privada italiana, para estudar a história de algumas mulheres artistas em Florença, na Itália. Fui, louca de medo, para permanecer apenas durante o período de seis meses da pós-graduação e acabei sendo aprovada no mestrado em Curadoria e Mercado de Arte, na Academia de Belas Artes de Florença em segundo lugar geral, com bolsa de estudo. No total, trabalhei seis anos no mercado de arte italiano curando mostras, feiras e como assistente de direção e vendas de galeria de arte. Retornei para o Brasil em 2016, com o intuito de trabalhar com arte contemporânea italiana no meu país. Nesse período, de trabalho remoto com a Itália, voltei a pintar", destaca.



A união de Arte e Arquitetura


Após retornar ao Brasil, já colecionando prêmios italianos, Ramile ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPEL, onde uniu a vocação pela arte e a paixão pela arquitetura. A artista comenta que, através da aquarela, visa retratar o seu olhar sob prédios históricos, paisagens e mares, principalmente, a Praia do Cassino.

"Nas minhas aquarelas exploro a impermanência do tempo, através da memória tangível e intangível que retrato em prédios históricos, casas, paisagens e mares. Penso que neles habita o movimento, tanto da história quanto das águas. Movimento e incerteza que a própria técnica e vida propõem: na aquarela não existe o controle, o mergulho se dá entre pigmento e água. Eu não aquarelo somente a casa/lugar, mas antes disso, procuro entender a relação afetiva da pessoa com o lugar. Para cada casa de infância escrevo um texto - já pintei mais de 100 e um dia pretendo escrever um livro com todas. Já o segundo conceito nasce de uma grande paixão, o mar: nos mares deposito minha voz, meu sentimento de pertencimento com a praia do Cassino e acredito que eles levem energia para quem os olha com alma, além do olhar", enfatiza Ramile. 

Em 2020, em meio a pandemia, a artista abriu um ateliê em Pelotas, quando começou a comercializar suas obras. Segundo a rio-grandina, o sucesso foi imediato, com mais de 900 obras produzidas para diversos países. Além disso, mantendo sua relação com a cidade do Rio Grande, durante o verão de 2023, a artista abriu um ateliê no Balneário Cassino, onde ministrou aulas gratuitas para os estudantes da escola Wanda Rocha, evidenciando seu amor pela arte e por sua cidade natal. 

"A abertura do atelier foi marcada por uma grande aula de aquarela para os alunos do Wanda Rocha. Eu não queria fazer uma abertura "normal" mostrando a minha arte. Eu queria deixar um recado para as crianças: que podemos e devemos acreditar nos nossos sonhos através da arte! Foram mais de 30 crianças que busquei no colégio e, com a ajuda das professoras, levei até o meu atelier. Elas passaram a tarde pintando e essa foi a experiência foi incrível para mim e acredito que para elas também. Muitas mães me mandam fotos, até hoje, dos pequenos pintando em casa. Isso nada paga", enfatiza Ramile. 


Em 2024, Ramile passou em um edital no programa de mobilidade acadêmica da UFPEL, retornando para Itália. A rio-grandina enfatiza que cada artista possui sua sensibilidade e deixa um recado para os artistas que estão iniciando:

"sejam originais, olhem para dentro e façam dos seus sentimentos arte. Cada pessoa carrega um oceano dentro e o azul nunca é da mesma tonalidade. A originalidade nos dias de hoje é rara, a maioria das pessoas somente copia. A maioria faz isso sem ao menos perceber, por medo de não ser bom o bastante. Abandonar o medo, ter constância, estudar, organizar o que a arte permite organizar: já deu certo!", ressalta. 


O acervo de obras de Ramile Leandro pode ser encontrados através de seu ateliê online: "rami_aquarelas.  "Atualmente estou pintando as casas de infância e lugares de memória, por encomenda da Itália para o Brasil. 




Em maio desse ano, dou início a minha série de aquarelas pintadas na Itália em Fine Arte - impressão de alta qualidade em papel aquarela de gramatura 300, feita em São Paulo, e entregue gratuitamente em todo Brasil. Serão reproduções limitadas, numeradas e certificadas", finaliza a artista.




Confira o texto de Ramile Leandro, que está exposto no museu italiano junto às aquarelas:  


"A obra apresentada consiste nos dois primeiros registros, em aquarela, da artista brasileira Ramile Leandro sobre o mar de Cosenza. Nesse breve relato, escrito pela artista nos primeiros dias de sua chegada à cidade, nascem as duas obras:




No ônibus, em uma longa viagem do aeroporto ao centro da cidade, avista uma casa abandonada: será uma casa ou uma antiga estação ferroviária? O olhar curioso vai mais longe e encontra, num dia escuro e de forte chuva, um azul intenso que se mistura com um verde esmeralda. O apito do trem parece indicar uma direção, um sonho a seguir. Ela ainda respira sem saber o que esperar da vida durante o período em que permanecerá em Cosenza.


O ônibus prossegue e sobe a montanha, até que ela vê o mar lá de cima. Ela olha para ele como um pássaro. O olho e a alma voam através das cores. A emoção não pode mais ser controlada porque o mar é tão forte que lhe tira o fôlego. 


Ela está com os óculos molhados. Ele olha tudo sem foco, sem conseguir respirar, a paisagem é tão intensa.


E assim é a aquarela do mar de Cosenza, vista de cima pela primeira vez: são manchas de cor, são emoções despertadas pela paisagem calabresa. Tudo vira poesia. Nada é preciso, como na vida."

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