Laura Cosme
Chuvas no RS expõem incompetência de gestão de eventos climáticos e acentuam vulnerabilidades sociais

Há pouco mais de um ano, os moradores da Região Metropolitana do Rio Grande do Sul enfrentam, mais uma vez, um pesadelo ocasionado por chuvas intensas e inundações. É triste ver a população revivendo traumas de terem suas vidas impactadas pela enchente e sentindo o medo de perderem tudo novamente.
Desde a última segunda-feira, 16, quando as chuvas iniciaram na região central do Estado e os níveis dos rios começaram a elevar, três pessoas morreram. Além disso, cerca de oito mil gaúchos já estão fora de casa. Em Canoas, por exemplo, os entulhos do episódio climático ocorrido no ano passado impediram que a água escoasse. O resultado? Ruas inundadas, pessoas precisando sair de casa, insegurança e medo instaurados.
Por que tudo isso está se repetindo? Porque além das mudanças climáticas, já tratadas exaustivamente por esta coluna, o que assistimos são gestões municipais incapazes de proteger a população, sobretudo, a população mais vulnerável. Nestes últimos meses, o tempo entre uma tragédia e outra deveria ter servido para transformar a dor em política pública, mas foi desperdiçado em discursos e promessas vazias.
Na sexta-feira, 20, o governador Eduardo Leite anunciou repasse de verba para os municípios atingidos pela chuva. Mas onde esse dinheiro é utilizado? Onde foram aplicados os recursos federais recebidos no ano passado? A falta de transparência e de ação, nesse contexto, mata mais do que qualquer tragédia, pois não são os representantes políticos que sofrem e os bairros mais atingidos continuam sendo os mesmos: onde vivem trabalhadores, mães e crianças em situação de vulnerabilidade.
Em uma tragédia climática, a desigualdade se escancara. Ainda que as inundações deste ano não tenham atingido os mesmos níveis devastadores de 2024, os danos seguem profundos e dolorosos, pois famílias continuam à mercê do clima e da sorte: sorte de não perder tudo, sorte de não ser atingido.
Enquanto isso, vemos, mais uma vez, a própria população se mobilizar e ajudar quem pode. Mais uma vez, a solidariedade se faz presente, mas essa deveria ser o único pilar de sustentação em momentos de crise. O que falta é gestão. Falta responsabilidade de quem deveria estar à frente. Falta ação concreta, vinda de cima, capaz de proteger quem mais precisa, antes que outra chuva aconteça e mais vidas sejam atingidas por um clima que não controlamos, mas que mitigamos quando há gestão capaz de executar o básico, como escoamento e limpeza urbana, até investimentos sérios em contenção, realocação de famílias e infraestrutura. Se em um ano isso tivesse sido feito, poderíamos ter evitado mais uma tragédia anunciada.
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