Laura Cosme
Dia Mundial do Meio Ambiente: as contradições do país que sedia a COP30, enquanto flerta com a devastação

O dia 05 de junho é reconhecido mundialmente como o Dia do Meio Ambiente. A data, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, durante a Conferência de Estocolmo, objetiva ampliar a conscientização global sobre os problemas ambientais e incentivar iniciativas para preservar os recursos naturais. Na época em que a data foi criada, a Conferência de Estocolmo havia colocado em pauta questões ambientais para melhorar a qualidade do ambiente humano e prevenir a deterioração.
Porém, meio século depois, continuamos presos a um ciclo vicioso de celebrações simbólicas, promessas institucionais e retrocessos concretos. Hoje, com novos termos, como emergência climática e aquecimento global, mas ainda assim, persistindo nos mesmos problemas e, pior, seguindo com as mesmas atitudes.
A crise climática não é mais uma ameaça distante, mas sim realidade. O aumento da temperatura global, a perda de biodiversidade e eventos extremos como secas e inundações mostram que o meio ambiente não é uma pauta isolada, mas atravessa diretamente economia, saúde, segurança alimentar e justiça social. Inclusive, a cobertura ambiental deve seguir presentes em todas essas editorias.
A defesa do Meio Ambiente não está resumida em plantar árvores em ações pontuais se, ao mesmo tempo, flexibilizam as leis ambientais, autorizam a mineração em terras indígenas ou se reduzem o investimento em fiscalização. Atacar o Meio Ambiente e as pautas ambientais é atacar a democracia e o direito de dignidade de todos os cidadãos. Cobrar, fiscalizar e mobilizar-se é um dever de todos os cidadãos.
Na última semana, vimos um exemplo bem claro de como a pauta ambiental anda em uma corda bamba. Os ataques direcionados à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não são apenas pessoais, são políticos e estratégicos. Representam uma tentativa clara de deslegitimar sua autoridade e abrir caminho para a aprovação da PL do Licenciamento Ambiental, ou, PL da Devastação. Quando um senador ofende uma das mulheres mais influentes da pauta ambiental no Brasil e que, ainda por cima, é ministra de Estado, defendendo os compromissos climáticos, ele ofende também todos os cidadãos que sentem os impactos reais das mudanças do clima, que enfrentam a insegurança alimentar, os problemas de saúde e a pobreza, pois sim, as mudanças climáticas também potencializam as vulnerabilidades, sejam elas sociais ou econômicas.
Com uma trajetória marcada pela defesa do meio ambiente, Marina Silva se tornou símbolo de resistência dentro de um governo que muitas vezes tenta equilibrar os interesses do agronegócio com os compromissos climáticos internacionais. E é justamente essa postura firme que tem incomodado setores mais conservadores da esfera federal, que agora pressionam para esvaziar sua atuação.
Em um ano emblemático, projeto trata-se de um verdadeiro retrocesso disfarçado de "desburocratização". Na prática, essa flexibilização favorece grandes empreendimentos à custa da degradação ambiental, da expulsão de comunidades tradicionais e do aumento das emissões de carbono.
Às vésperas de sediar a COP30, é uma vergonha que ativistas estejam lutando contra um projeto que nem deveria ser pauta. Em um governo que visava posicionar o Brasil como um país referência em sustentabilidade, há muitas contradições permeadas por interesses econômicos.
Em uma conferência que irá reunir líderes do mundo todo, o Brasil, enquanto país sede, deveria chegar com ações concretas, e não com discursos vazios e retrocessos disfarçados de avanço, em um momento que o país não alinha suas ações internas com o discurso global.
Enquanto ativistas ambientais se mobilizam, greenwashing ganha espaço entre empresas e instituições
Não é de hoje que vemos empresas e instituições, sobretudo, políticas, se engajarem em campanhas ativistas com um único intuito: publicizar a marca. No que tange a pauta ambiental, isso não é diferente. O termo, em inglês, faz referência a uma estratégia de marketing, em que empresas se apresentam como ambientalmente engajadas, afirmando serem sustentáveis, enquanto colocam para baixo do tapete o impacto real de seus produtos, ou como no casos de instituições, de suas ações.
A empresa Vale, mineradora da barragem de Brumadinho, rompida em 2019, é um exemplo evidente disso. Após a tragédia que arrastou vidas em meio a lama e a irresponsabilidade, a marca investiu em campanhas publicitárias em que representa ser sustentável, falando de preservação ambiental, redução de gases de efeito estufa e consumo renovável. Porém, não há como apagar o que já aconteceu.
Não é preciso ir longe para percebermos como esses discursos, guiados por interesses estratégicos, também nos afetam diretamente. Após as enchentes de 2024, o número de viagens internacionais realizadas pelo governador Eduardo Leite, com o objetivo de posicionar o Rio Grande do Sul como referência na mitigação das mudanças climáticas, contrasta com a realidade de milhares de gaúchos que ainda viviam em abrigos temporários, tendo perdido tudo com a enchente de maio.
Por isso, é fundamental estar atento. Cabe a nós, enquanto sociedade, cobrarmos atitudes daqueles que devem preservar, legislar e fiscalizar. Apoiar e consumir marcas verdadeiramente comprometidas com o meio ambiente é uma atitude política. Reciclar, reduzir o consumo e combater a poluição também são deveres políticos. Mobilizar-se contra projetos de lei que favorecem a degradação ambiental, como a chamada "PL da devastação", é um compromisso coletivo que o Brasil não pode ignorar. A luta da ministra Marina Silva é, na verdade, a luta de todos nós que acreditamos que um futuro digno para todos só será conquistado se ele for justo e sustentável.
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