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Rio Grande,01/05/2025

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FURG e UFPel integram pesquisa que aponta que enchentes serão cinco vezes mais frequentes no sul do país

O estudo intitulado “As enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente” avaliou a enchente de maio de 2024


FURG e UFPel integram pesquisa que aponta que enchentes serão cinco vezes mais frequentes no sul do país Foto: Carlos Fabal/AFP
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Após um ano da enchente de maio de 2024, a maior tragédia hidrológica que impactou milhares de vidas gaúchas e devastou cidades inteiras, especialistas apontam um único cenário: o fenômeno climático deve ocorrer em um curto período de tempo e com mais intensidade. As mudanças climáticas têm influenciado neste panorama, tornando as inundações até 9% mais intensas e frequentes, segundo o estudo “As enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente”, conduzido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. 

O estudo, publicado nesta quarta-feira, 30, reuniu cerca de 15 órgãos federais, contando com a participação de instituições como a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Durante a pesquisa, foi realizada uma avaliação do evento extremo ocorrido em maio de 2024, suas causas, impactos e os cenários futuros.


O Sul do Brasil é o local com maior projeção de aumento de cheias 


A pesquisa aponta que durante maio de 2024 foi registrado um acumulado de chuvas superior a 700 milímetros na região norte do Rio Grande do Sul, ocasionando no desalojamento de mais de 146 mil pessoas, 180 mortes, 25 desaparecidos e 478 municípios atingidos. Embora o cenário seja drástico e ainda deixa marcas profundas na vida dos que vivenciaram a enchente, as projeções indicam que o futuro pode ser ainda mais severo.


Os pesquisadores afirmam que eventos de cheias extremas no território gaúcho poderão se tornar até cinco vezes mais frequentes, ou seja, um evento hoje considerado raro, que ocorre a cada 50 anos, poderá ocorrer a cada 10 anos. Para chegar a essa conclusão, o estudo analisou a localização geográfica do Estado, seus rios e afluentes, constatando que as vazões máximas de água podem aumentar em até 20% no futuro, em decorrência das mudanças climáticas.

Além, a pesquisa destaca que entre 35% e 40% da população atingida pela enchente de 2024 encontrava-se em áreas teoricamente protegidas por sistemas que não funcionaram como previsto, o que agravou os efeitos do desastre devido a uma falsa sensação de segurança. Diante disso, caso o cenário climático se agrave, ainda mais pessoas poderão ser impactadas.

A participação da FURG e UFPel, através dos pesquisadores Elisa Helena Fernandes e Leonardo Contreira, contribuiu com informações hidrodinâmicas e hidrológicas sobre a Lagoa dos Patos e a tendência de cenários futuros. Segundo o estudo, os dados permitiram validar em tempo real as previsões e indicaram excelente reprodutibilidade do modelo hidrodinâmico em diferentes áreas do corpo lagunar durante o evento de inundação. 


Falta de monitoramento e atenção com o clima contribuíram para a ocorrência da tragédia


O estudo aponta que a tragédia provocada pela enchente revelou falhas graves no sistema de monitoramento climático e hidrológico brasileiro. A combinação entre a falta de atenção preventiva e deficiências técnicas nas estações de observação compromete a capacidade de prever e mitigar os danos causados pelo evento climático extremo.

Entre os principais problemas identificados na pesquisa está o dano às estações de monitoramento, ocasionado pela força das águas. Em diversas localidades, os equipamentos foram severamente afetados, interrompendo a transmissão de dados em momentos cruciais. Na estação Balsa do Prata, por exemplo, o sistema ficou fora do ar por meses, prejudicando o acompanhamento em uma área estratégica.

Além disso, outro fator apontado foi a falta de redundância nos sistemas, o que significa que muitas das estações não contavam com mecanismos alternativos em caso de falhas. Em locais onde sensores foram danificados ou as Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) foram inundadas, não houve substituição imediata, resultando em vazios temporários de dados justamente durante o pico das chuvas.

Conforme os pesquisadores, a rede de monitoramento enfrenta limitações na cobertura territorial, especialmente em bacias hidrográficas menores e regiões rurais. Nesses locais, a presença de estações pluviométricas e fluviométricas ainda é escassa, o que compromete a capacidade de prever com precisão o avanço das 

O olhar para o futuro: mudanças climáticas exigem atitudes emergenciais 


As mudanças climáticas exigem que poder público, academia e sociedade civil caminhem juntos na esteira de um futuro mais resiliente. Dessa forma, o estudo aponta que pensar e executar medidas estruturais é uma necessidade urgente. A incorporação de critérios climáticos no planejamento de obras, a ampliação de sistemas de previsão e alerta e o investimento em infraestrutura verde estão entre os caminhos recomendados para reduzir vulnerabilidades e proteger vidas.

Conforme o documento, os sistemas de proteção, como diques e comportas, falharam em até 40% das áreas afetadas pelas chuvas em 2024. A falta de manutenção foi um dos principais fatores. Logo, inspeções regulares e investimento contínuo são fundamentais para garantir que essas estruturas funcionem corretamente.

Além disso, para garantir a eficácia dos sistemas de contenção, especialistas defendem a criação de um marco legal que defina responsabilidades entre União, estados e municípios, além da obrigação de manutenção e planos emergenciais. 

Em Porto Alegre, 40% dos atingidos pelas chuvas não sabiam que viviam em áreas de risco. O dado revela uma falha na cultura de prevenção. Desse modo, a pesquisa incentiva que campanhas educativas sejam realizadas, incluindo o tema nas escolas e desenvolvimento treinamentos frequentes sobre como agir em emergências podem melhorar drasticamente a resposta da população a eventos extremos. 

“As perdas de vidas devem ser evitadas e as perdas econômicas podem ser minimizadas. Não há uma só solução para a prevenção de desastres, mas a tomada de decisão deve lançar mão de um conjunto de medidas que incluem o reassentamento de comunidades em zonas seguras, o mapeamento de vulnerabilidades e zoneamento de áreas de risco, os sistemas de alerta, a implementação de infraestrutura híbrida cinza + verde (por exemplo, barragens de controle de cheias + diques + áreas de amortecimento natural), a criação de fundos ou mecanismos financeiros para a manutenção adequada de estruturas de proteção e para as ações emergenciais e a incorporação de impactos da mudança do clima como fator de majoração do risco em projetos estruturais”, conclui o estudo.



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