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Rio Grande,08/06/2025

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Ique de la Rocha

Bankanalete, a banca de revistas da cidade

Vendedores de revistas estão desaparecendo, mas Joselito e Bena mantém a atividade.

Joselito e a esposa Bena.
Bankanalete, a banca de revistas da cidade

 

Bankanalete, a banca de revistas da cidade

Vendedores de revistas estão desaparecendo, mas Joselito e Bena mantém a atividade.

 

Nos tempos de hoje as mudanças estão acontecendo muito rapidamente. O avanço da tecnologia está fazendo com que as pessoas mudem de hábitos e de comportamento. Um exemplo é a queda na audiência das emissoras de TV, na venda de jornais e revistas. Teria muitos outros fatos para enumerar, que até passariam do tamanho deste espaço se fôssemos citá-los.

Nesta coluna vamos abordar um ramo de negócio que sofreu uma bruta retração. Estamos falando das bancas de revistas. A partir dos anos de 1990, com a chegada da internet, esse ramo de atividade foi caindo aos poucos, mas agora, para que se tenha uma ideia, só restou na cidade uma banca de revistas: a Bankanalete que, como diz o nome, situa-se no canalete da Major Carlos Pinto, esquina com a rua Mauá. O proprietário é um cearense que se considera carioca de coração, pois deixou Fortaleza (“Capital do Universo”),com 10 anos de idade e foi residir no Rio de Janeiro. É torcedor do Fluminense e, quanto às escolas de samba, não tem nenhuma em especial, mas dá preferência às que ficam mais próximas do bairro em que morava, Marechal Hermes, como a Portela e Mocidade Independente.

Muito simpático, o Antonio Joselito da Silva, hoje com 61 anos, confessa que sempre gostou de trabalhar no comércio, desde os 13 anos, quando ajudou o saudoso tio Tarcísio, em Marechal Hermes, que possuía uma fruteira. Ainda no Rio, também trabalhou com serigrafia.

Na fase adulta Joselito quis entrar na Marinha e veio para Rio Grande servir no Grupamento de Fuzileiros Navais. Aqui conheceu Bena Antiqueira, sua esposa, com quem tem o filho Igor, de 31 anos. No final de 1991, ele deixou a Marinha e o casal foi para o Rio de Janeiro. Só que Bena não se adaptou e, por volta de 1993 ou 94, decidiram morar no Rio Grande.

Ao chegar aqui, ele procurou o que fazer. Um amigo, que possuía uma banca de revistas, chamou a atenção de Joselito para o negócio. “Sempre gostei de revista de quadrinhos e da Duas Rodas”, explica ele que muitas vezes, no Rio, frequentava uma banca em seu bairro e comprava a revista Seleções para o tio. Surgiu a oportunidade de comprar a Bankanalete, que já funcionava há cerca de um ano, mas as vendas estavam fracas. Deu uma boa parte do pequeno capital que tinha guardado, e não titubeou: “Agora abracei. Já era. Vou fazer chover lá”, pensou. E em dois meses quitou o restante  da dívida.

 

Muito trabalho

O começo das atividades ainda foi um pouco devagar, mas as coisas melhoraram quando Joselito colocou um horário estendido. Trabalhava das 7h da manhã à meia-noite no verão; no inverno das 7h até 21 ou 22 horas “e surtiu efeito”. Muita gente o procurava na parte da noite. O comerciante lembra que fez amizade com uma senhora que morava na rua Conde de Porto Alegre e à noite ia caminhar no Canalete. Ela sofria de insônia e parava na banca para conversar e também comprar algumas revistas. E assim como a senhora, muitos outros passaram a frequentar o local.

Quando o Canalete “bombou”, com a proliferação de casas noturnas para aquele local, foi que o comerciante teve de baixar o ritmo. “Começaram a ocorrer brigas de gangues, assaltos e, por isso, não fiquei mais até tarde”, explica. Hoje o horário da Bankanalete é entre 9h e 20h. “Valeu a pena. Gosto de comércio e se tiver de partir para outro ramo será o comércio. É cansativo, mas gosto e a banca me proporcionou uma vida legal. Dava para comer fora às vezes, fazer uma viagenzinha...”, conta ele.

 

“Ainda temos um público legal”

Joselito da Silva lamenta que “ficou desinteressante a revista e é um segmento trabalhoso, porque toda semana tem que fazer o levantamento do que vendeu para devolver a sobra e acertar as contas com a distribuidora”.

Por que caiu o movimento?

- A internet fez com que o comportamento das pessoas mudasse e o pessoal se tornou acomodado também.

Nas lembranças de Joselito as boas vendas da editora Abril. As histórias em quadrinhos dos personagens de Walt Disney, depois superados pela Turma da Mônica. Lembra que estas últimas vinham também com edições em inglês e espanhol que eram compradas por alunos de um curso de idiomas que ficava próximo. Para a criançada ele vendia histórias em quadrinhos e revistas de atividades, como as de colorir. O público adolescente comprava muito a Super Interessante, Globo Ciência e Mundo Estranho. As mulheres gostavam da Cláudia, Vogue, Estilo, Contigo, Caras e revistas populares como Ti, ti, ti e Dona Maria. Os homens procuravam a GC, Sexy, Quatro Rodas, Auto Esporte, jornais e revistas semanais de informação. O entrevistado esclarece que algumas revistas, como as de automóveis passaram a ser impressas somente para as capitais, enquanto as cidades do interior só tem acesso às edições digitais.

Hoje Joselito diz que os jornais estão vendendo “quase nada”, com exceção do Diário Gaúcho que chega a vender 60 exemplares por dia. Revistas de histórias em quadrinhos vendem bem, mas não tem nada a ver com as do passado (Bolinha, Luluzinha, Superman...). São de super-heróis como Capitão América, Homem de Ferro, Homem Aranha, mas praticamente os personagens não são mais romantizados. Um exemplo é o Batman, que passou a ser chamado de Cavaleiro das Trevas. “Não é mais aquele cara que prendia o bandido, bonitinho. Agora ele bate, e bate mesmo. Sem piedade”, observa nosso entrevistado.

Mas, com todas as mudanças, a Bankanalete  está firme e forte com a simpatia de seus proprietários, que tornam o ambiente agradável para um bate-papo, ponto de encontro e para a troca de figurinhas de álbuns, que já se tornou tradicional e continua aos sábados à tarde. Inclusive o álbum do Grêmio está com bastante procura.

 

Qual o segredo do atendimento?

- É gostar do que faz e ser educado com todos.

 

A Bankanalete segue firme?

- Estamos diversificando. Além das revistas temos brinquedinhos, carrinhos, bola de sabão. Também temos refri, água, cigarro, papel de fumo, isqueiro, álbum de figurinhas de Rio Grande... Aos poucos vamos encontrando nichos para podermos continuar trabalhando. Nem me aposentando quero parar. Enquanto puder trabalhar, eu vou trabalhar. Não dá para se queixar muito, não. Ainda temos um público legal.

 

Contatos com a coluna pelo email: iquedelarocha@gmail.com



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