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Rio Grande,18/05/2024

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Samuel Ferreira

Dengue: mais um sintoma-detonador do colapso ambiental?

Mantínhamos sempre uma grande distância temporal do agora, no que se refere as mudanças em nosso ecossistema ou simplesmente aos problemas que poderiam ser causados em nosso cotidiano.


Dengue: mais um sintoma-detonador do colapso ambiental?

Dengue: mais um sintoma-detonador do colapso ambiental? 


Sempre relacionamos a discussão das mudanças climáticas e dos problemas ambientais, com fenômenos muito distantes de nós. Aliás, sempre quando falávamos dos problemas ambientais, falávamos deles sempre no futuro distante, localizando a falta de água potável, o aquecimento global, aumento do nível do mar e a falta de alimentos, lá pelos anos de 2080, 2100. Mantínhamos sempre uma grande distância temporal do agora, no que se refere as mudanças em nosso ecossistema ou simplesmente aos problemas que poderiam ser causados em nosso cotidiano. 


Para citarmos um exemplo mais direto, no ano passado, foram registrados em vários lugares do mundo as mais altas temperaturas, não somente na Austrália, na Índia, China ou na França, mas no Brasil também. Vimos e sentimos na pele, eventos climáticos extremos dos mais diversos tipos. Tornados, chuvas intensas, inundações, desmoronamentos, o visível aumento dos níveis dos oceanos (ligados a grande velocidade do derretimento de geleiras) e tudo isso deixando um rastro de destruição em diversos territórios e localidades. Milhares de pessoas ainda estão desabrigadas, foram mortas ou foram prejudicadas de alguma maneira. 


Os desafios para encararmos os problemas ambientais e climáticos são diversos, eles começam na forma como extraímos e fundamentamos a nossa matriz energética que é totalmente de origem fóssil (petróleo, carvão mineral e gás natural), tidos hoje como fontes não renováveis de energia. Da mesma forma, ter como base essa matriz energética é muito problemática no que diz respeito a sua utilização, ou seja, a sua queima. A queima de combustíveis é extremamente prejudicial para o meio ambiente, para a população humana e para todo o ecossistema da terra. Se por um lado a queima de combustíveis fósseis permite um benefício para a sociedade em um primeiro momento, ela vai permitindo que a eliminação de dióxido de carbono e outros gases realizem o “efeito estufa”, aumentando a temperatura da Terra, e gerando como consequência inúmeros problemas irreversíveis.  


Nos últimos meses, muitas doenças respiratórias surgiram devido as altas temperaturas, que permitiram que um ambiente super seco tivesse uma grande influência no sistema respiratório de milhares de pessoas. Da mesma forma, as mudanças bruscas de temperatura que ficam oscilando entre frio e quente, seco e úmido, são potenciais geradores de doenças respiratórias.  


Portanto, as doenças respiratórias não são as únicas doenças consequências das mudanças climáticas ou do que tem sido chamado de eventos climáticos extremos. Estamos vivendo principalmente no Brasil uma epidemia de Dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti (também transmissor dos vírus Zika e Chikungunya). Mas qual a relação entre o mosquito da dengue e as mudanças climáticas ou problemas ambientais atuais? Praticamente tudo, pois as altas temperaturas, ligadas as instabilidades das estações, as chuvas torrenciais permitiram que uma grande epidemia de dengue acontecesse no território brasileiro. A dengue já é considerada mais um sintoma-detonador do Colapso Ambiental que vivenciamos na atualidade. 


Proliferação das larvas dos mosquitos cresce de modo assustador, tendo em vista a facilidade com que a espécie  do mosquito Aedes Aegypt teve de se adaptar aos diversos tipos de ambientes (muito poluídos ou não, secos ou inundados), a falta de saneamento básico, a grande aglomeração humana próxima a ambientes insalubres e vulneráveis, elementos assustadores que compõem hoje no Brasil o que chamamos de Racismo Ambiental, ou seja, a ocupação de espaços em degradação ambiental pelas populações etnicamente discriminadas e marginalizadas de nossa sociedade. Essas são questões extremamente preocupantes, pois a desigualdade social e econômica, anda de mãos dadas com a degradação ambiental, e delas nascem problemas muito complexos. 


Desta forma, a reflexão que fica é que, as problemáticas ambientais, sanitárias ou climáticas que achávamos ter que enfrentar enquanto sociedade lá por 2100, nós estamos enfrentando agora. Assim como o “efeito estufa”, os ciclones, a desertificação, a extinção de espécies, as migrações climáticas (populações que estão hoje migrando por viverem condições adversas em seus antigos territórios), a acidificação dos oceanos, o aumento das doenças respiratórias e a pandemia de Covid-19, a epidemia de dengue nos alerta sobre a interligação de todas os fenômenos socioambientais, de que vivemos em um ecossistema, e que sofreremos em cadeia com as diversas adversidades que o próprio Planeta Terra imporá a nossa espécie numa tentativa de continuar existindo.  


Pois por mais que venhamos a agredir e degradar a natureza da qual também fazemos parte, e ela permanecerá de alguma forma, ela terá (e está nos mostrando isso) uma resposta brusca contra o Homo Sapiens Sapiens, que mesmo alcançado prestígio e sofisticação, é só mais uma espécie muito recente neste “pálido ponto azul” como falava Carl Sagan. Somos extremamente vulneráveis e cada dia que passa, percebemos isso. A dengue é mais uma demonstração por parte da natureza que, se não estivermos atentos, continuarmos tentando desregular o metabolismo do Planeta Terra, algo muito simples poderá impedir a nossa existência por aqui.



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