Marisa Martins
Violinos ao Entardecer
Tenho um Diário de Felicidades. Patagônias Chilena e Argentina ocupam várias páginas.
VIOLINOS AO ENTARDECER
(Do Diário de Felicidades)
Marisa Martins
aloha.marisah@gmail.com
Tenho um Diário de Felicidades. Patagônias Chilena e Argentina ocupam várias páginas.
Tarde cai entre águas e montes. Fiordes chilenos. Patagônia.
Quatro dias de navegação desde Valparaiso, aportando e ancorando em Chacabuco e Puerto Montt.
Lento deslizar do barco faz deslizar sonhos e nostalgias.
Há quanto tempo cruzara por terra e água, recortado litoral sul do Chile? Região de lagos, montanhas e vulcões, no continente; canais, fiordes, glaciares, baías, na costa banhada pelo Pacífico.
Há quanto tempo guardara sonhos de rever, mesmo ao longe, a ilha de Chiloé e, outra vez, adentrar meandros costeiros.
Toda área era coberta por gelo nas últimas eras glaciares. Desde a Cordilheira dos Andes ao Pacífico.
Gelo erodiu montanhas e se formaram vales em forma de U. Com subida das águas do oceano, vales foram invadidos por elas. Surgiram fiordes. Como no sul do Chile, eles estão, também, na Nova Zelândia, Alasca e Noruega.
Em nenhum dos outros fiordes vislumbrados, porém, pendia no silêncio, só quebrado por suave marulhar, fascinante som de violinos.
Violinos no entardecer austral. Tecem sensibilidades de arpejos. Embelezam esteira marítima, rumo ao Estreito de Magalhães.
Mozart, Bach, Beethoven, Debussy, Vivaldi mesclam-se pelas mágicas mãos de avó, mãe e filha. Mãos polonesas. Parecem mal tocar as cordas com arcos, tal a suavidade dos movimentos.
Horas passam. Noite cai. Violinos seguem encantamento de olhos, ouvidos, corações. Emoções. Lembranças de tantas travessias em outros mares. De tantas outras inefáveis belezas.
Lá fora, num recanto dos fiordes, dizem habitar sobreviventes da tribo indígena Oman. Uma mulher de 98 anos, seis maridos e dois filhos aguardando extinção do clã.
Ouvirão, se for real existência deles, sonoros acordes emanados da nau que passa? Imaginarão terem deuses descido dos montes ou emergido das águas?
Tomara ouçam. Aguardarão serenos o encontro com ancestrais. Desfrutando, a cada dia, o encanto dos fiordes.
Assim os desfrutei. Intensamente. Guardando a fascinação de escrever inesquecíveis capítulos no Diário de Felicidades.
Ao som de violinos, no entardecer...
P.S: O tempo não passa quando ainda nos deslumbramos.
Foto: arquivo pessoal
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