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Rio Grande,02/11/2025

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André Vinícius dos Santos

A falsa evolução da informática fundamental

A verdadeira informática básica hoje é aquela que ensina a pensar, não apenas a clicar.

A FALSA EVOLUÇÃO DA INFORMÁTICA FUNDAMENTAL

Por André Vinícius dos Santos


É hora de encarar uma verdade desconfortável: os cursos que se autodenominam de "informática básica" ou "fundamental" no Brasil não evoluíram no mesmo ritmo vertiginoso da tecnologia. Enquanto o mundo se transforma pela nuvem, pela inteligência artificial e pela ubiquidade dos smartphones, a espinha dorsal de muitas dessas aulas ainda parece fincada na década de 90, oferecendo uma formação que é, na melhor das hipóteses, inútil, e na pior, um desserviço à inclusão digital.


A padronização pelo Pacote Office, que dominou o currículo por décadas, reflete uma mentalidade de linha de produção, focada meramente em habilidades operacionais. Aprender a formatar uma tabela no Excel ou a criar slides no PowerPoint, embora tenha seu valor instrumental, é o mínimo do mínimo. Confundir essa habilidade com "letramento digital" é como ensinar alguém a usar um lápis e presumir que ele se tornou um escritor. Estamos ensinando a apertar botões, mas falhando miseravelmente em ensinar a pensar digitalmente.


O letramento digital, o verdadeiro foco que deveria nortear qualquer educação contemporânea em tecnologia, é algo infinitamente mais profundo do que uma simples aula sobre o Word. Trata-se de capacitar o indivíduo a ser um cidadão ativo, crítico e seguro no ecossistema digital. Isso inclui entender a lógica por trás dos algoritmos que moldam nossa realidade, saber discernir entre fato e fake news em um cenário infodêmico, e, crucialmente, dominar as noções de segurança cibernética e privacidade de dados.


Onde estão os módulos sobre autenticação de dois fatores, reconhecimento de phishing ou a compreensão dos termos de uso das grandes plataformas? Estes são os verdadeiros pilares da sobrevivência no século XXI, e são negligenciados em favor de lições repetitivas de formatação.


A insistência em manter um currículo engessado ignora a revolução da nuvem, das ferramentas colaborativas e, mais recentemente, da Inteligência Artificial Generativa. Muitos desses cursos ainda tratam o computador de mesa como a única porta de entrada para o digital, ignorando que, para a vasta maioria da população, o smartphone é o principal e único dispositivo de acesso. A base de ensino precisa migrar urgentemente do "Onde fica o botão Iniciar?" para o "Como gerencio minha identidade e meus dados neste ambiente conectado?".


Ao perpetuar um ensino tecnológico ultrapassado, as escolas que proporcionam esses cursos estão falhando em preparar indivíduos para o mercado de trabalho moderno e, mais importante, para a vida em sociedade. O resultado é uma legião de pessoas que sabem usar um programa específico (e muitas vezes pago), mas que se sentem perdidas diante de uma nova ferramenta online, vulneráveis a golpes e incapazes de participar plenamente do debate público.


Chegou a hora de aposentar o currículo dos anos 90. O letramento digital não é um luxo; é um imperativo social. Ele exige uma abordagem dissertativa e crítica, que abrace a complexidade da rede, em vez de se esconder atrás da simplicidade obsoleta de um mero editor de texto. A verdadeira informática básica hoje é aquela que ensina a pensar, não apenas a clicar.



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